IMPORTÂNCIA DA CAPACITAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DO FUTEBOL

O mundo moderno evolui rapidamente nas mais diversas áreas. Na área esportiva observamos avanços que não seriam imagináveis a trinta ou quarenta anos atrás, ou até menos tempo. A preparação tanto acadêmica quanto à experiência prática dos profissionais que militam no esporte, neste caso mais especificamente no futebol, é de fundamental importância para o sucesso da modalidade.

Este texto tenta levantar algumas considerações sobre essa importância da capacitação profissional.

 “O objetivo principal do professor é auxiliar no aperfeiçoamento dos alunos, conforme as necessidades desenvolvimentistas e o potencial que eles têm” (GALLAHUE; OZMUN, 2001, p. 448). No caso de iniciantes, os treinadores devem evitar o excesso de conversa, procurando manter os atletas sempre em atividade (McGOWN, 1991). As manifestações de estímulo e entusiasmo do professor influenciam de forma positiva o desempenho dos atletas (MOTA, 1989).

Ao se planejar um programa de treinamento para crianças e adolescentes, o profissional que irá planejá-lo deve conhecer bem os aspectos que envolvem a puberdade e aceitar a variabilidade individual em que eles ocorrem (TOURINHO FILHO; TOURINHO, 1998).

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Segundo McARDLE, KATCH e KATCH (1991), o preparo acadêmico do profissional que irá ministrar um programa de treinamento é de fundamental importância, seja ele para jovens, adultos, idosos, sedentários ou atletas. A experiência prática é um aspecto tido como o melhor método, mas os autores acreditam que o conhecimento das razões do treinamento e do exercício seja fundamental para o adequado desenvolvimento do programa de treinamento.

O treinador tem a responsabilidade em relação à correta programação do treinamento (distribuição coerente das cargas gerais e específicas, do volume, da intensidade; observação das particularidades biológicas; oferecimento de corretas informações pedagógicas de acordo com a faixa etária e outras), à educação motora, intelectual e moral dos jovens, e o abuso por parte de dirigentes mal informados que cobram dos atletas (FILIN e VOLKOV; FILIN; SCHMOLYNSKI; MAGILL; FERNANDES, citados por AUGUSTI, 2001).

Para JULIO MAZZEI, citado por GONCALVES (1998), as responsabilidades do preparador físico são:

– Planejar, educar, dirigir e supervisionar o programa de condicionamento físico (atlético e fisiológico) dos jogadores, relacionado com o planejamento semanal, mensal e anual;

– Planejar, educar, dirigir e supervisionar o aquecimento durante as sessões de treinamento (técnica ou tática) e jogos;

– Auxiliar o técnico quando requisitado durante as sessões técnicas e táticas;

– Estabelecer e orientar um programa especial de condicionamento físico para os atletas lesionados ou que estão em reabilitação, em conjunto com o médico e o departamento de fisioterapia;

– Fornecer um programa de atividades semanais, verificando os melhores aspectos para o desenvolvimento de cada atleta;

– Dar opiniões sobre a importância ou não, da quantidade e qualidade dos jogos amistosos de nível regional, nacional ou internacional;

– Manter um arquivo de controle com os dados e informações que poderão ser importantes para o desenvolvimento das atividades no planejamento do próximo ano;

– Organizar e dirigir avaliações físicas para os jogadores;

– Participar de seminários, cursos, simpósios e licenças que poderiam introduzir novas técnicas, sistemas e métodos de treinamento;

– Fornecer aos jogadores os resultados de suas avaliações físicas e performances em jogos e, advertir sobre os problemas de comportamento fora do campo e como poderão influenciar no seu desempenho físico;

– Analisar com os jogadores a frase do fisiologista francês M. Baquet (p. 65): Você anda com suas pernas, galopa com seus pulmões, corre com seu coração, mas somente alcança seu destino com sua mente.

Para BARROS (1990), muitos clubes não possuem profissionais gabaritados para que as categorias de base sejam trabalhadas. O trabalho de base é quase esquecido.

Foi descrita neste texto, uma série de opiniões de estudiosos que demonstraram a importância da capacitação dos profissionais. Entretanto, o nosso futebol parece estagnado. Não é concebível que no século XXI, com avanços tecnológicos incríveis, ainda tenhamos treinadores e preparadores físicos que trabalhem com pouquíssimo ou nenhum embasamento teórico. A experiência prática é de fundamental importância, mas essa experiência sem a teoria fica incompleta. Os ex-atletas que querem se tornar técnicos precisam estudar e adquirir conhecimentos teóricos, com isso podem aliar esse conhecimento teórico aos seus conhecimentos práticos e assim, se tornarem técnicos competentes a fim de não prejudicar o desenvolvimento dos atletas, principalmente de crianças e jovens.

As escolinhas de futebol estão cheias de “profissionais” que não possuem a menor capacidade para trabalhar com crianças, mas muitos proprietários dessas escolas, preferem um ex-jogador que possui um certo nome, a um professor de educação física devidamente preparado para ensinar crianças e jovens. A solução para o caso das escolas de futebol, é mais fácil. Os pais dessas crianças devem pedir as qualificações dos professores, procurando assim, locais adequados tanto com relação às instalações, quanto em relação ao preparo dos profissionais que irão ensinar seus filhos.

Já no caso do futebol competitivo, é mais complicado. A solução para colocar ordem no futebol, talvez seja a intervenção dos órgãos públicos. O Conselho Federal de Educação Física, em conjunto com os Conselhos Regionais, está procurando regulamentar todo o profissional que trabalhe com atividade física, a dúvida é se eles conseguirão fazer isso com o futebol também?

Referências Bibliográficas:

AUGUSTI, M. Treinamento de endurance para crianças e adolescentes. In: Revista Digital, Buenos Aires, ano 7, n. 37, jun. 2001. Disponível em: <www.efdeportes.com>. Acesso em: 15 nov. 2001.

BARROS, J. M. A. Futebol: Porque foi… Porque não é mais. Rio de Janeiro: Sprint, 1990. Cap. 2, p. 15-19.

GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. Tradução de Maria Aparecida da Silva Pereira Araújo. São Paulo: Phorte, 2001. 641 p.

GONCALVES, J. T. The Principles of Brazilian Soccer. Spring City: Reedswain, 1998. Cap. 5, p. 63-85.

McARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Fisiologia do Exercício: Energia, Nutrição e Desempenho Humano. Tradução de Giuseppe Taranto. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991. 510 p.

McGOWN, C. O Ensino da técnica desportiva. Treino Desportivo, Lisboa: [s.n.], II série, n. 22, p. 15-22, dez. 1991.

MOTA, J. As funções do feed-back pedagógico. Revista Horizonte, Lisboa: [s.n.], v. VI, n. 31, p. 23-26, maio/jun. 1989.

TOURINHO FILHO, H.; TOURINHO, L. S. P. R. Crianças, adolescentes e atividade física: aspectos maturacionais e funcionais. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo: Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, v. 12, n. 1, p. 71-84, jan./jun. 1998.

Por Fabio Cunha*

*Técnico de Futebol; mestre em Ciências do Movimento (UnG); pós-graduado em Metodologia da Aprendizagem e Treinamento do Futebol (UGF); pós-graduado em Psicologia Esportiva (UCB); pós-graduado em Treinamento, Técnicas e Táticas Esportivas (Fac. Pitágoras) e Bacharel em Esporte com Habilitação em Treinamento em Futebol (USP). Autor dos livros: Torcidas no futebol: espetáculo ou vandalismo? e Técnico de futebol: a arte de comandar. Palestrante em cursos, seminários e congressos em todo o Brasil.