TÉCNICO DE FUTEBOL – A ARTE DE COMANDAR

carreira 7 (foto Eduardo Toledo)

Fabio Cunha (foto Eduardo Toledo)

Herói ou vilão, gênio ou burro, amigo ou carrasco, moderno ou retrógrado, estudioso ou arcaico, dedicado ou preguiçoso, inovador ou inventor. O técnico de futebol vive em cima de uma corda bamba, uma linha tênue entre a glória e o fracasso. Uma simples partida, uma má atuação de sua equipe, uma única derrota podem colocar todo o seu prestígio, todo o seu conhecimento e até seu caráter em dúvida.

Em todas as profissões existentes, os profissionais precisam provar sua capacidade e seu conhecimento, mas no caso do técnico de futebol isso atinge níveis extremos. O técnico precisa provar sua capacidade e competência todas as semanas, às vezes a cada três ou quatro dias, quando não diariamente. Uma equipe pode vencer dez partidas seguidas, depois perder duas ou três e já se coloca em dúvida o trabalho do comandante; pode ganhar títulos e quando perder o próximo torneio será contestado. O técnico nunca deve se iludir ou se empolgar demais com o sucesso de sua equipe. O título conquistado hoje, não tem valia nenhuma amanhã. O sucesso no futebol é efêmero.

Como o futebol é o maior esporte do mundo, com milhões de aficionados, é natural que esses milhões de pessoas se julguem capacitadas para entender do esporte. Uma coisa é entender o jogo, a sua dinâmica, outra coisa é entender como funciona essa dinâmica e como fazê-la ser eficiente.

O dia a dia dos profissionais do futebol não é fácil como muitos imaginam, a maioria dos clubes não oferece condições satisfatórias de trabalho. A função de técnico de futebol é uma das mais complexas, pois ele precisa possuir uma gama muito grande de conhecimentos, conhecimentos esses técnicos, táticos, físicos, fisiológicos, médicos, psicológicos, nutricionais, pedagógicos, sociais, comportamentais, políticos, econômicos e outros, além de exercer uma liderança eficiente e conseguir motivar seus atletas a todo momento.

Não é concebível que no século XXI, com avanços tecnológicos incríveis, ainda tenhamos técnicos e preparadores físicos que trabalhem com nenhum ou pouquíssimo embasamento teórico e atuem somente com o empirismo. A experiência prática é de fundamental importância, mas essa experiência sem a teoria fica incompleta ou, no mínimo, defasada.

Os técnicos de futebol devem possuir uma formação teórica bem embasada, seja com cursos de educação física ou com algum curso de habilitação, além dos cursos periódicos de atualização profissional. O que não pode mais ocorrer é observarmos treinamentos sem o mínimo de fundamentação teórica, que acabam por prejudicar os atletas em vez de auxiliá-los no desenvolvimento futuro de suas carreiras ou de sua formação como cidadãos. Não é aceitável também encontrar profissionais sem o mínimo de tato para lidar com outros seres humanos, sem o mínimo de respeito e educação. Esse é um preceito básico da convivência humana.

No futebol moderno, o técnico assumiu um papel de destaque. O futebol é um esporte que exige diferentes profissionais nas mais variadas áreas atuando em prol de um resultado único, que é a vitória. Essa reunião de valores e especialidades necessita ser chefiada por uma pessoa, precisa de um líder eficaz e carismático, ou seja, necessita de um comandante que tenha capacitação e que saiba extrair o melhor desempenho de sua equipe de trabalho e atletas. Não se pode dissociar o resultado final da incidência que o técnico tem sobre seu grupo. O comandante que se prepara, se capacita, estuda os conceitos de liderança moderna tem maiores condições de levar sua equipe ao sucesso esportivo comparado aos técnicos que utilizam um estilo de liderança voltado para pressão e cobrança excessiva.

O futebol de hoje não pode ser entendido sem a figura do técnico. Esse indivíduo é fundamental e indispensável no esporte, na condução e planejamento de um trabalho profissional sério. Mas acima de tudo ele deve saber trabalhar em equipe, sozinho ou assumindo uma postura ditatorial ele não conseguirá coordenar e conduzir uma equipe ao sucesso.

Ser técnico de futebol não é simplesmente pegar um apito, entrar em campo e, pronto! Ser técnico de futebol é um ato de coragem, determinação, ousadia, vocação, paixão e, principalmente, muito suor e trabalho duro. É preciso muito estudo, abdicar de muitas coisas, sacrificar momentos de lazer e convívio familiar, passar por dificuldades financeiras.

É uma das profissões mais apaixonantes e gratificantes, mas sem “sangue, suor e lágrimas” não se atinge o sucesso e a felicidade pessoal e profissional. Ser técnico de futebol é acima de tudo ser um lutador, ser dedicado, ser um batalhador.

É recomendado a todos que desejam ingressar nessa profissão, que se preparem, se capacitem ao máximo, seja cursando uma faculdade, fazendo cursos diversos, lendo livros e artigos, conversando com profissionais mais experientes, enfim, o indivíduo que pretende se tornar um técnico de futebol diferenciado deve evoluir no aspecto técnico e também no lado pessoal, nunca achando que sabe o suficiente. O aprendizado deve ocorrer a vida toda.

Por Fabio Cunha*

* Técnico de Futebol; mestre em Ciências do Movimento (UnG); pós-graduado em Metodologia da Aprendizagem e Treinamento do Futebol (UGF); pós-graduado em Psicologia Esportiva (UCB); pós-graduado em Treinamento, Técnicas e Táticas Esportivas (Fac. Pitágoras) e Bacharel em Esporte com Habilitação em Treinamento em Futebol (USP). Autor dos livros: Torcidas no futebol: espetáculo ou vandalismo? e Técnico de futebol: a arte de comandar. Palestrante em cursos, seminários e congressos em todo o Brasil.