POTÊNCIAS OLÍMPICAS, MODELOS DE GESTÃO E NÍVEL DE DESENVOLVIMENTO

Neste artigo gostaria de investigar uma questão intrigante: Existe uma relação entre os resultados que um país consegue nos Jogos Olímpicos e seus indicadores de desenvolvimento econômicos e sociais?

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Vamos a alguns fatos. O Brasil ganhou, desde os Jogos de 1920 na Antuérpia até os Jogos de Barcelona em 1992, 39 medalhas, sendo 9 de ouro. De Atlanta 1996 até Pequim 2008 foram 52 medalhas, sendo 11 de ouro. A que devemos essa inegável evolução a partir de Atlanta 1996?

Algumas pistas: a constituição de 1988 contribuiu para uma organização mais evoluída do Governo, aumentando políticas de acesso ao Esporte. Algumas empresas estatais começaram a patrocinar modalidades. Com a posterior entrada em cena da Lei Agnelo/Piva, libera-se recursos antes inexistentes para o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), que passa a coordenar da melhor maneira a gestão das Confederações. Isso permitiu que tivéssemos delegações maiores e mais qualificadas a partir de 1996.

Mas será que somente o afluxo maior de recursos financeiros é suficiente para alçar um país aos primeiros postos no quadro de medalhas dos Jogos? A resposta simples é “não”, mas o que mais é necessário?

Vejamos alguns fatos que podemos aferir baseando-se no Quadro de Medalhas de Pequim e agregando indicadores econômicos e de desenvolvimento:

  1. Dos 10 primeiros países, oito (EUA, Reino Unido, Alemanha, Austrália, Coréia do Sul, Itália e França) estão entre os 30 primeiros no índice de desenvolvimento humano (IDH) da ONU. As exceções são China e Rússia.
  2. Dos 10 primeiros países, apenas um (Austrália) tem o PIB inferior a 1 trilhão de dólares.

Analisando os modelos de Gestão Esportiva desses países, podemos dividi-los grosseiramente em três modelos: Americano, Estatal e Híbrido. O modelo americano é único ao conseguir formar atletas de todas as modalidades olímpicas através do sistema escolar. O modelo estatal, adotado anteriormente pelo bloco comunista e atualmente pela China, transforma a busca por medalhas em política de estado, investindo maciçamente na detecção e formação de atletas em centros de treinamento. O modelo híbrido é uma combinação dos anteriores, consiste em criar centros de desenvolvimento de talentos por modalidade, de maneira a prover os atletas promissores detectados em escolas e clubes com uma melhor estrutura para o seu desenvolvimento, dividindo a responsabilidade entre o Governo e as Confederações Nacionais.

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Portanto, apesar de já reunirmos alguns requisitos para nos tornarmos uma “Potência Olímpica” no futuro, ainda nos falta um desenvolvimento mais abrangente como “País”. Além disso, é preciso que continuemos a evoluir o nosso modelo de gestão esportiva nacional, integrando as diversas forças, em especial os Governos, Comitê Olímpico Brasileiro e as Confederações Nacionais.

Temos uma oportunidade única para que nos aproximar deste objetivo, com a melhora das condições macroeconômicas do país e a organização da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016 em solo nacional, “apenas” os dois maiores eventos esportivos do Planeta.

“O afluxo maior de recursos financeiros não é suficiente para alçar um país aos primeiros postos no quadro de medalhas dos Jogos Olímpicos.”

 

Por Roberto Siviero*
*Gestor Esportivo; Mestre em Administração Esportiva; Bacharel em Esporte; trabalhou no Comitê Organizador da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 e no gerenciamento dos Jogos Pan-Americanos Rio 2007.

 

Fonte: Revista Gestão no Esporte. Ano I. Edição 1. Jan-Fev 2012.