ENTREVISTA JOÃO HENRIQUE AREIAS – MARKETING ESPORTIVO

Nessa entrevista falamos com o profissional de marketing esportivo João Henrique Areias*.

João Henrique Areias

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O que acha do mercado de marketing esportivo no Brasil? Estamos muito longe do mercado americano e europeu?

Como mercado publicitário, em volume de dinheiro disponível dos anunciantes, estamos entre os 10 maiores mercados do mundo. E aí daí que devemos captar verbas para o esporte. Infelizmente nosso modelo de gestão, baseado no dirigente voluntário, é arcaico, ineficiente e somos um país “esportivamente pobre” tanto técnica como financeiramente.

Como os grandes eventos esportivos (Jogos Pan-americanos Rio 2007, Copa do Mundo 2014 e Jogos Olímpicos Rio 2016) podem ajudar na evolução do marketing esportivo no Brasil?

Acredito que aumentará a pressão do mercado por administrações profissionais e transparentes. Mais jovens se formarão na área. Desta conjugação de valores pode surgir uma luz no fim do túnel.

Quais as áreas de atuação que um profissional de marketing pode exercer no esporte?

A área de NEGÓCIOS (diretoria de negócios), que engloba Marketing, Comunicação e Comercial – considerando o esporte em suas 3 dimensões legais – ALTO RENDIMENTO – EDUCACIONAL – PARTICIPAÇÃO e o mercado de trabalho: AGENTES PRODUTORES (atletas, clubes, federações, confederações, ligas) – CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO – COMERCIALIZAÇÃO e COMUNICAÇÃO (arenas, meios de transmissão, mídia, agências de marketing esportivo etc.) e MERCADO (anunciantes privados e públicos).

Quais as principais dificuldades que um profissional de marketing encontra para atuar no esporte, dirigentes, patrocinadores, modalidades, mídia?

O modelo de gestão das entidades esportivas (clubes, federações e confederações) baseadas no dirigente voluntário e a política como pano de fundo.

Qual a formação necessária para exercer essa função?

Marketing – Vendas – Comunicação principalmente. Administração, Negócios, Educação Física, com extensão em marketing esportivo, por exemplo.

Você acha que as faculdades e cursos de gestão e marketing estão prontos ou preparados para formarem novos profissionais de marketing esportivo no Brasil? O mercado está pronto para aceitar esses profissionais vindos das faculdades?

Existem bons cursos e boas instituições de ensino. O problema é a referência esportiva brasileira. Com 200 milhões de habitantes não somos capazes de fazer um papel bonito nas olímpiadas (exceção honrosa seja feita às paralimpíadas) e passamos a fazer feio no futebol.

Qual a sua visão sobre o futuro do marketing esportivo brasileiro?

Acredito que em algum momento seremos um país mais sério e profissional. Portanto o campo é vastíssimo e cheio de oportunidades. Aqui me tornei uma referência por ter viabilizado o primeiro evento oficial esportivo (Campeonato Brasileiro de 87 – também chamada de Copa União), com recursos da iniciativa privada (TV Globo, primeiro campeonato transmitido ao vivo, com patrocínio de Coca-Cola, Varig, Editora Abril e Dover). Mais tarde, em 1996, fizemos o mesmo com o basquete (Sportv, primeiro campeonato brasileiro transmitido ao vivo, com patrocínio de Reebok, Molten, Unisys e Panini). Também fomos pioneiros em representar a imagem de toda a seleção brasileira de futebol que foi tetracampeã do mundo nos EUA em 1994, com a maioria dos contratos coletivos, que ajudou a unir o time, conforme declaração dos próprios jogadores no meu livro Uma Bela Jogada – 20 anos de marketing esportivo (disponível para download gratuito no meu site www.sportlink.info). Isto me faz crer que ainda estamos na infância do marketing esportivo no Brasil.

Quais dicas você daria para quem quer ingressar nessa área? Existe um caminho a seguir?

À princípio alguns vão estranhar. Como é um mercado fechado, a melhor forma é o voluntariado. Eu comecei como dirigente voluntário no Flamengo (Vice-presidente de Marketing) em 1987. Em outubro fui profissionalizado pelo Clube dos 13.

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*João Henrique Areias é consultor e professor de gestão e marketing esportivo em MBAs de instituições de ensino como Trevisan, Facha, Universidade Cândido Mendes e Fundação Getúlio Vargas. Também ministra seu próprio curso de Gestão e Marketing Esportivo. É membro acadêmico da ABRAESPORTE e da Academia Lance! para artigos sobre gestão e marketing esportivo; Desenvolveu e comercializou diversos projetos esportivos, como o Plano de Marketing da Copa União 87 (campeonato brasileiro de futebol) que viabilizou o Clube dos 13, sendo o primeiro evento esportivo oficial, financiado exclusivamente pela iniciativa privada no Brasil. Teve importante papel na implantação dos “pontos corridos” no Campeonato Brasileiro de Futebol, a partir de 2003, que defendeu e foi aprovado por unanimidade pelo Grupo de Trabalho que criou o Estatuto do Torcedor em 2002; Autor de dois livros: Uma Bela Jogada e Marketing no País do Futebol e mantém uma comunidade na internet sobre o tema com cerca de 5.000 membros (www.marketingesportivo.org).