Enquanto em muitos países a educação é a base para todo o trabalho e desenvolvimento profissional, onde se busca conhecimento, novas metodologias e tecnologias, troca de informações, melhora no treinamento, no Brasil acontece o contrário. Poucos acham que devem aprender, poucos procuram novos conhecimentos, poucos se dedicam a empregar novas tecnologias, enfim, o futebol brasileiro parou no tempo. Os profissionais do futebol brasileiro, de um modo geral, não acordaram para a terrível crise técnica e tática que vivemos.
A mentalidade retrógrada onde achamos que somos os maiorais, onde só temos a ensinar, deve acabar e ser substituída por uma mentalidade moderna, focada na evolução, na busca por conhecimento, na troca de informações e conceitos. Deve-se mudar a mentalidade tecnicista, focada apenas em repetição de gestos motores mecanizados por uma mentalidade sistêmica, integrada, onde a busca deve ser pelo desenvolvimento do entendimento da lógica e da inteligência de jogo.
As metodologias focadas no ser humano como um todo, na abordagem sistêmica, onde o jogo (contextualizado, é claro) deve ser o alicerce de todo o treinamento e desenvolvimento dos atletas são pouco aplicadas no Brasil, demonstrando como a base do treinamento de futebol no Brasil está defasada. A raiz do “futebol arte” praticado no Brasil desde o seu início veio de uma pedagogia voltada para formas de jogos, onde os jovens atletas eram obrigados a resolver os problemas a todo o momento, onde os recursos técnicos eram amplamente desenvolvidos e aperfeiçoados, de forma natural e dinâmica, onde os aspectos físicos exigidos pelo jogo eram ativamente trabalhados. Essa pedagogia, denominada “pedagogia da rua”, pode ser entendida como o alicerce de um modelo sistêmico que desenvolvia a inteligência de jogo e as habilidades técnicas em situação de confronto, como acontece no jogo formal. Com o passar do tempo fomos deixando isso de lado para adotar uma pedagogia analítica e tecnicista, sem se preocupar com o entendimento do jogo.
Ainda há tempo para voltarmos à nossa origem, em resgatarmos a essência do futebol brasileiro, em mudar a forma de se trabalhar o futebol. Para isso, precisamos mudar primeiro a formação dos técnicos e professores de futebol. São importantes cursos de formação, capacitação e atualização para abrir a mente de muitos profissionais que ainda atuam no empirismo. O resgate técnico e da beleza plástica, das jogadas de efeito, do drible, da ousadia, do futebol ofensivo de toque de bola, só irá ocorrer quando adotarmos novas metodologias construtivistas no ensino e treinamento do futebol. Quando as crianças forem encaradas e entendidas como seres pensantes, que estão abertas a novos conhecimentos, mas que também estão prontas para a troca de vivências, poderemos formar, primeiro cidadãos mais conscientes e educados e, num segundo momento, formar atletas com mais qualidade.
Enfim, o futebol brasileiro tem potencial para voltar a dominar e encantar o mundo, mas para isso precisamos mudar o nosso pensamento, mudar a filosofia atual, mudar as metodologias de treinamento aplicadas e, não menos importante, mudar a administração do futebol.
.
.
Por Fabio Cunha*