Que o futebol brasileiro não encontra-se em seus melhores momentos históricos isso é notório, há a vertente que a safra é ruim, mero azar, já há outra em que processo de formação e toda a estrutura do futebol brasileiro, treinadores, dirigentes, federações e imprensa estão defasados, despreparados. Contudo, exatamente essa última vertente é que a vem mais ganhando força, principalmente depois do vexame histórico para a Alemanha, há quem diga desde a o massacre histórico do Barcelona sobre o Santos na final do Mundial de Clubes.
Visto todo o problema que o sistema futebolístico brasileiro encontra-se vamos centrar nossa discussão no fator treinamento, no processo de formação do jogador de futebol brasileiro.
É consenso que o futebol praticado no Brasil encontra-se defasado em relação ao futebol praticado na Europa, sem características próprias, sem uma identidade, mas afinal quais as características do futebol brasileiro, a tal identidade?
Duas seleções marcaram a história do futebol brasileiro, primeiro a seleção da Copa de 1970, tri campeã mundial, contando com jogadores como Pelé, Tostão, Jairzinho, entre outros, assim como a seleção da Copa de 1982 marcada por jogadores técnicos, inteligentes e dribladores como Sócrates, Zico e Falcão, embora não tenha sido campeã, para muitos foi a seleção que praticou o chamado “Futebol Arte”.
Embora o futebol jogado nesse período seja outro, impossível de realizar comparações com o atual, o que podemos resgatar dessas seleções?
O que nos faz lembrar dessas seleções foi o jogo ofensivo, aquele que propõem o jogo, possuindo jogadores inteligentes, criativos, técnicos, dribladores, que utilizavam o improviso para resolver as situações-problemas que apareciam durante as partidas.
Se essa for realmente a nossa identidade por que a perdemos?
Se ao menos utilizarmos essas características que são comuns entre os melhores jogadores de nossa história, teremos como um ponto de partida para elaborarmos a metodologia da “Escola Brasileira de Futebol”, algo que infelizmente ainda não temos e devemos criar.
Essas características foram se perdendo com o decorrer dos anos, infelizmente fizemos o caminho contrário aos europeus, nos preocupamos em demasia com a preparação física e deixamos de lado os aspectos técnicos-táticos, enquanto eles começaram a perceber e a estudar como era o processo de formação de nossos jogadores. Geralmente, a iniciação ocorria em jogos reduzidos realizados em ruas com regras, terrenos, número de jogadores e tamanho de gols variados, no qual, o garoto era estimulado constantemente a tomar decisões e por tentativa e erro descobria as melhores soluções utilizando a ação técnica como “ferramenta” para resolver os problemas do jogo.
Posteriormente a isso, buscamos resgatar o jogador técnico com excessivos treinamentos analíticos, através da repetição do gesto técnico, em um ambiente descontextualizado e que dificulta a transferência para o jogo, não que deva ser excluído do processo de treinamento, porém, não é a principal solução para a formação do jogador.
Metodologia ideal que não existe, cabendo ao treinador utilizar a metodologia de ensino-aprendizagem-treinamento em um momento oportuno e condizente com o nível de aprendizado do jogador. Portanto, passamos a formar jogadores com bom preparo físico e “robotizados” tecnicamente sem grande inteligência tática para tomar decisões como o jogo atual exige.
Afinal de contas, qual caminho devemos seguir?
Resgatar o futebol Brasileiro! Aquele marcado pelos jogadores talentosos, técnicos, dribladores dotados de uma grande capacidade de improvisação quando a situação assim exigir, todavia, ajustado para uma nova exigência do jogo, o “futebol moderno”, que necessita que os jogadores tenham grande velocidade física, cognitiva (velocidade da tomada de decisão), execução técnica, além de inteligência tática, força, equilíbrio emocional, competitividade e participação durante os 90 minutos.
Para que isso ocorra, o treinamento deve ser planejado, possuir conteúdos e objetivos pré-determinados desde o ingresso até o egresso em cada categoria, monitoramento e alterações do processo ensino-aprendizagem-treinamento, dentro de uma concepção de jogo do clube e do treinador, no qual, os treinadores devem criar exercícios adequados ao nível de prontidão e aprendizado do praticamente estimulando a tomada de decisão e execução do gesto técnico em um ambiente específico, contextualizado, que irá permitir criar comportamentos adequados ao modelo de jogo, mas que também propiciará a improvisação, permitindo um maior repertório. O aspecto físico não deve ser deixado de lado, cabendo aos treinadores utilizarem a metodologia que mais se adeque aos jogadores e ao clube, seja os métodos analítico, integrado ou sistêmico, esse último que promove o treinamento físico, técnico, tático e psicológico de maneira conjunta.
Embora o futebol seja multifatorial e exista grande dependência de todos os setores do futebol como citado inicialmente, cabe aos treinadores buscarem qualificação para serem efetivos e melhorarem a qualidade do processo ensino-aprendizagem-treinamento de formação do futebolista brasileiro.
Por Carlos Vargas*