Gerenciamento dos clubes não acompanha a evolução e as oportunidades do mercado esportivo no Brasil.
O momento atual do futebol brasileiro é extremamente positivo. O mercado evoluiu muito, especialmente desde 2003, com o aprimoramento do ambiente político e legal, graças à aprovação de novas Leis que regularam o futebol brasileiro. As mudanças verificadas tiveram impactos diretos nos negócios gerados pelos nossos clubes.
Nesse período, os clubes ampliaram suas receitas e atualmente vivem seguramente o seu melhor momento, graças ao ambiente em torno da Copa 2014. Segundo dados da BDO RCS entre 2003 e 2010 o mercado brasileiro de clubes de futebol passou de um faturamento de R$ 805 milhões em 2003 para mais de R$ 2,1 bilhões em 2010, um incremento de 171% nos últimos oito anos. E a projeção é que até 2014 esse mercado supere R$ 3 bilhões em receitas geradas.
Mas afinal como todos esses aspectos positivos, por que o mercado deveria passar por uma reflexão?
A resposta é simples: o modelo de gestão de nossos clubes é ainda arcaico, em comparação com o tamanho de suas receitas e importância mercadológica. Infelizmente os clubes brasileiros são entidades políticas, em que muitos de seus dirigentes parecem mais torcedores do que gestores.
O resultado dessa constatação são clubes gastando muito mais do que arrecadam, ampliando seu endividamento, investindo pouco em suas marcas e direcionando grande parte dos recursos na busca incessante por títulos, ou na tentativa de conquistá-los.
O resultado disso pode ser verificado nos dados dos maiores clubes brasileiros publicado esse ano pela BDO RCS, analisando 25 equipes, que entre 2004 e 2010 acumularam déficits de R$ 1,7 bilhão. Isso quer dizer que os nossos maiores clubes apresentaram despesas anuais médias de R$ 243 milhões superiores as suas receitas anuais, um completo absurdo!
Esse modelo deficitário tende a se intensificar nos próximos anos, com mais recursos chegando aos clubes, graças ao novo contrato televisivo recentemente aprovado, novos estádios, maiores receitas de marketing etc. Clubes já publicam na imprensa que estão dispostos a abrir mão de um volume representativo de seu contrato televisivo, para contratar jogadores que atuam na Europa.
Entretanto, esse momento de bonança deveria servir de ponto de partida para uma radical mudança no modelo de gestão praticado. Os clubes deveriam utilizar as novas receitas que virão, para investir na reestruturação de suas dívidas, especialmente com bancos e na redução da ingerência de fundos de investimentos em direitos econômicos de atletas.
Além disso, deveriam atrelar a sua gestão mecanismos de controle orçamentário, visando um controle maior de suas despesas, para evitar que a cada ano tenham que antecipar receitas de exercícios futuros e mesmo assim fechar no vermelho. Adicionalmente deveriam se preocupar com outros aspectos além do futebol, com sua marca, seus torcedores, os patrocinadores e parceiros.
Em resumo, deveriam aproveitar o excelente momento mercadológico para repensar a forma como são administrados.
Contudo, não parece ser esse o interesse, mas sim continuar a gastança desenfreada, cujo foco continuará sendo a tentativa desesperada de ser campeão, a qualquer custo.
Essa falta de racionalidade na administração pode resultar que em algum momento tenhamos que sofrer ingerência de órgãos reguladores, como está ocorrendo atualmente na Europa, com a atuação da UEFA na implantação do Fair Play Financeiro.
Talvez essa seja a única solução para que o futebol brasileiro cresça de forma equilibrada.
“O modelo de gestão de nossos clubes é ainda arcaico, em comparação com o tamanho de suas receitas e importância mercadológica.”
Por Amir Somoggi*