MUDANÇAS NA GESTÃO DO FUTEBOL BRASILEIRO

O futebol brasileiro é tão grande quanto poderia ser?

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O futebol brasileiro é o melhor futebol do mundo dentro e fora dos gramados?

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Em alguns aspectos acho que não.

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O futebol brasileiro poderia estar num estágio mais avançado do que se encontra atualmente. Se possuíssemos um pouco mais de organização, planejamento, competência profissional e intercâmbio de conhecimentos técnico-científicos, o esporte no Brasil poderia estar mais desenvolvido. Muitas vezes, tenta-se copiar os modelos norte-americanos e europeus, mas na verdade o esporte brasileiro precisa evoluir, encontrar a sua forma de organização. Os bons exemplos estrangeiros podem ser adaptados à nossa realidade e cultura, mas não copiados. Enfim, encontrar sua identidade.

Muitas dessas afirmações podem parecer meras especulações, mas se com a nossa desorganização, fora das quatro linhas, atingimos o status de melhores do mundo, imagine se nos organizássemos melhor. Em vez de cinco poderíamos hoje ter sete, oito ou mais títulos em Copas do Mundo.

Não quero aqui transformar o futebol brasileiro num esporte de robôs, pelo contrário, sou totalmente adepto do futebol ofensivo, bem jogado, recheado de craques, com jogadas plásticas e de efeito. Mas sou a favor sim, de uma modalidade esportiva organizada, com estádios cheios e que sejam verdadeiras arenas confortáveis e acolhedoras, com clubes sem dívidas e com lucros, sem violência entre as torcidas, um esporte que possa exportar menos atletas e que mais técnicos possam apresentar o estilo de jogo brasileiro no exterior ensinando outros países e atletas, principalmente aos países europeus, como treinar, comandar e dirigir equipes. Um futebol, enfim, que seja respeitado pelo resto do mundo também fora das quatro linhas.

Não gostaria mais de ouvir e ler que “só” ganhamos Copas do Mundo porque nossos atletas são maravilhosos, claro que os são, mas que ganhamos Copas e torneios por outros fatores também: craques espetaculares; excelentes e competentes técnicos e demais membros da comissão técnica; organização e planejamento; dirigentes honestos e competentes e, outros.

Diferentemente dos países de primeiro mundo em que existem programação e visão de médio e longo prazo, como planejamento para cinco e até dez anos, no Brasil a visão é imediatista e de curto prazo. Os resultados aqui devem ocorrer em meses, até em semanas.

Os dirigentes com pouca capacidade gestora estão sujeitos à interferência externa e pressão de torcedores e mídia; com isso, pressionam os treinadores por resultados imediatos. O planejamento a médio e longo prazo acaba não ocorrendo devido à cobrança excessiva por vitórias e conquistas. Todo o trabalho feito e planejado pela comissão técnica pode ser jogado no lixo por consequência de duas ou três derrotas.

O esporte de alto rendimento é uma profissão, uma ciência, um negócio e, como tais, deve evoluir e ser gerenciado de maneira profissional e não passional, entenda-se amadora. A paixão fica por conta do torcedor, todos os profissionais de um clube, do presidente ao porteiro, do técnico ao atleta, devem possuir conhecimento, capacidade e competência para exercerem suas funções e gerarem lucro e conquistas para a empresa em que trabalham – um clube esportivo. Uma empresa só é lucrativa com resultados e os resultados só são alcançados com trabalho profissional, com planejamento, com organização e conduzido por pessoas gabaritadas e competentes.

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Não quero dizer aqui que todos os clubes precisam legalmente virar empresas, isso é uma questão de legislação e de análise das características de cada entidade, mas os clubes devem ser geridos como empresas, independentemente da modalidade e do objetivo final. Mesmo instituições sem fins lucrativos devem aplicar os princípios da Governança Corporativa e de sustentabilidade.

No mundo globalizado, onde a informação está acessível a todos e, em qualquer lugar, não é concebível que as entidades esportivas sejam gerenciadas sem planejamento, sem conhecimento técnico, de forma amadora, e não tenham projetos de desenvolvimento sustentável. Planejamento exige reflexão, avaliação, análise e investimento, não só financeiro, mas vontade, interesse, responsabilidade e profissionalismo.

No caso dos pequenos clubes, a verdadeira profissionalização somente ocorrerá com a mobilização conjunta dos Conselhos Regionais de Educação Física, federações estaduais, CBF, prefeituras municipais, empresários locais, dirigentes profissionais, capacitados e honestos, membros da comissão técnica com capacitação, conhecimento, devidamente preparados e credenciados em seus conselhos profissionais.

O esporte e, em especial o futebol, é uma paixão do brasileiro. Os clubes na figura de seus dirigentes deveriam respeitar aqueles que procuram honestamente vencer por meio dessa profissão, incluem-se aqui técnicos, preparadores físicos, atletas e demais profissionais, além de respeitar o cidadão que torce por uma bandeira ou distintivo, que sofre, chora, ri e vibra com as vitórias e derrotas do seu time de coração.

Portanto, chegamos ao fim do esporte conduzido e controlado por “amadores”. Estamos na era da informação e do conhecimento. Com os avanços tecnológicos que temos hoje, não se pode mais aceitar dirigentes que trabalhem sem responsabilidade e que liderem essas entidades com total empirismo. O esporte deve estar concatenado com os mais modernos conceitos científicos nas mais diversas áreas: de treinamento, econômica, fisiológica, esportiva, psicológica, médica, administrativa, tecnológica, saúde, sociológica, de mídia e de marketing.

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Por Fabio Cunha
* Técnico de Futebol; mestre em Ciências do Movimento (UnG); pós-graduado em Metodologia da Aprendizagem e Treinamento do Futebol (UGF); pós-graduado em Psicologia Esportiva (UCB); pós-graduado em Treinamento, Técnicas e Táticas Esportivas (Fac. Pitágoras) e Bacharel em Esporte com Habilitação em Treinamento em Futebol (USP). Autor dos livros: Torcidas no futebol: espetáculo ou vandalismo? e Técnico de futebol: a arte de comandar. Palestrante em cursos, seminários e congressos em todo o Brasil.

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