Atletas, treinadores e comissões técnicas cada vez mais reconhecem que fatores psicológicos influenciam o desempenho esportivo. Ansiedade, concentração e confiança são apenas alguns exemplos de fenômenos mentais que podem mudar o resultado de uma partida. Dessa forma, não basta que os atletas realizem treinamentos físicos e técnicos, é preciso treinar a mente.
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O treinamento mental é uma forma de intervenção do psicólogo do esporte, que tem como objetivo que o atleta atinja regularmente as condições ideais de rendimento. Ele auxilia o atleta a derrubar as barreiras psicológicas que o impedem de atingir seu rendimento máximo, como pensamentos negativos, medos e inseguranças. Diversas técnicas podem ser utilizadas nesse treinamento, e sua escolha depende de uma avaliação feita pelo psicólogo, que irá considerar a modalidade praticada pelo atleta e suas demandas.
A visualização é uma das principais habilidades mentais utilizadas pelos atletas e uma aliada importante no treinamento mental. Trata-se de utilizar todos os sentidos para criar ou reproduzir experiências mentalmente. A visualização auxilia o atleta a se concentrar na tarefa motora que terá que executar, eliminando distrações do ambiente, evitando pensamentos negativos e aumentando as chances de acerto.
Sabe aquele momento antes do saque, em que o tenista ou o jogador de vôlei fica quicando a bola no chão? Aquilo não é (pelo menos não deveria ser) uma “firula”. Naquele momento o atleta está visualizando o saque: a força que irá imprimir, o movimento dos braços e pernas, a direção que deseja dar à bola. A mesma coisa acontece com o jogador de basquete antes de um lance livre, com o jogador de futebol e handebol antes do pênalti, com o nadador e o corredor antes do tiro de largada etc.
Outro aspecto importante do treinamento mental está relacionado aos pensamentos negativos que o atleta pode ter durante uma competição. Esses pensamentos são automáticos e, muitas vezes, o atleta nem se dá conta deles. É como se uma “voz” ficasse dizendo para o atleta “você não vai conseguir”, “você não merece vencer”, entre outras crenças. O treinamento mental auxilia o indivíduo a identificar esses pensamentos e afasta-los. É possível treinar a habilidade de ter pensamentos positivos durante a competição, como “sinto-me confiante em relação ao meu rendimento”, “treinei muito e estou pronto para esse desafio” etc.
Atualmente os atletas de alto rendimento apresentam níveis muito próximos de condicionamento físico e preparo técnico. Isso significa que o treinamento mental pode representar a diferença entre a vitória e a derrota. Afinal de nada adianta um corpo “sarado” e condicionado, se a mente o sabota dia após dia.
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Por João Ricardo Cozac*
*Psicólogo do esporte. Presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte. Há 22 anos atende atletas de diversas modalidades em clínica. Autor dos livros “Psicologia do Esporte: atleta e ser humano em ação” (editora Roca) – “Psicologia do Esporte: clínica, alta performance e atividade física” (editora Annablume) e “Com a cabeça na ponta da chuteira” (editora Annablume). Professor responsável pelo curso de formação em Psicologia do Esporte – São Paulo, para alunos e profissionais de Psicologia e Educação Física.
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