Definir um perfil ou uma característica para o técnico de futebol de sucesso não é tarefa fácil. Aliás, para exercer essa função existem inúmeras características comportamentais que influenciam no resultado.
Antes de se iniciar a discussão sobre como deve ser ou o que deve possuir uma pessoa para ser técnico de futebol, dois termos precisam ser bem esclarecidos. Uma dúvida muito comum é se existe diferença ou não entre treinador e técnico. O professor e ex-técnico José de Souza Teixeira em palestra proferida no curso de Gestão da Qualidade Total Aplicada no Futebol Profissional (2003) diferencia esses termos:
– Treinador – profissional que treina ou dirige treino. Que habitua, acostuma, adestra.
– Técnico Desportivo – aquele que ensina, treina, corrige e dirige grupos de atletas.
– Técnico Desportivo Pesquisador – aquele que ensina, treina, corrige, controla e usa esses dados para futuros planejamentos e indispensáveis replanejamentos, com objetivos bem definidos, em grupos de atletas com alto nível de rendimento.
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Treinador é a pessoa que se encarrega do treinamento e da formação de uma equipe, preparando-a para um bom rendimento, para obter resultados positivos. O treinador é um especialista na direção técnica e tática, do desenvolvimento psicológico e físico do jogador. Suas tarefas podem se ampliar, em função de suas competências (FIFA, entre 2003 e 2006).
Para Sir Alex Ferguson, ex-treinador do time inglês do Manchester United por mais de vinte anos, o técnico deve reconhecer as características de cada atleta, assim não realizará cobrança de um comportamento que não seja natural (HOEK e VAN VEEN, 2008). Argimon et al. (2006) colocam que os técnicos devem manter uma estreita interação com os atletas trabalhando conforme as situações exijam. Conforme Gomes e Souza (2008) o técnico deve em primeiro lugar conhecer as características individuais da sua equipe, com isso poderá extrair máximo rendimento de seus atletas.
De acordo com José Mourinho (apud LOURENÇO, 2006), quando um técnico entra numa equipe no meio do campeonato, ele deve mudar a metodologia de trabalho e não a parte psicológica. Mudando somente a parte psicológica pode até conseguir um resultado imediato, mas logo tudo volta ao mesmo ponto. Já a mudança metodológica é duradoura porque introduz transformações estruturais. Ficando assim claro as modificações na filosofia de trabalho e no modelo de jogo.
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Para Cerezo (2005) existe cinco tipos de técnicos:
1- Treinador tradicional (teoria dependente)
Mesmo ritmo de aprendizagem, o todo é a soma das partes.
– Atletas totalmente dependentes do técnico, se este não ensina, eles não aprendem.
– A postura do técnico é distante e autoritária.
– Pensa que o esporte é o fim em si mesmo.
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2 – Treinador como um executor técnico (teoria reprodutiva)
Centrado no treinamento, preocupado com o rendimento.
– Preocupa-se com a execução correta das habilidades por parte dos alunos.
– Os resultados acontecem como um mecanismo de avaliação do treinamento e da condução que está dando a ele.
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3 – Treinador prático-processual (teoria expressiva)
Concentra-se na prática e em como atingi-la.
– Situação real de jogo.
– Ocupar toda a sessão de treino com formas de jogo.
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4 – Treinador construtivo (teoria construtiva)
Satisfazer as necessidades do aluno atendendo a seus recursos e possibilidades de desenvolvimento cógnito e socioafetivo.
– Técnico centrado no aluno, no jogador.
– Técnico com motivação nos processos e não nos resultados, tenta dar explicação a tudo que faz, porque e com que finalidade se utiliza determinada prática.
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5 – Treinador sociocrítico (teoria sociocrítica)
Técnico que tenta mudar a realidade do treinamento da modalidade.
– Mais importância ao esporte como meio de educação e desenvolvimento e não como esporte em si mesmo.
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Como funções do técnico, temos (COUNSILMA, 1977; GOLDBERG, 1995, 1996; HILL, 1995; SACADURA; RAPOSO, 1994 apud MIRANDA, BARA FILHO, 2008):
– Ser um modelo de liderança e comportamento para os atletas.
– Ser autêntico e criativo.
– Ter senso de humor e atitude positiva para influenciar de forma positiva o ambiente de treinos e competições.
– Implementar suas ideias.
– Delegar responsabilidades e esforços a todos da equipe.
– Conhecer a fundo a modalidade esportiva.
– Transmitir valores educativos, morais, sociais e culturais.
– Passar a mensagem aos atletas de que a competição não é “maior que a própria vida”.
– Transmitir ensinamento para que o atleta focalize o que fazer para vencer e não diretamente a vitória.
– Não menosprezar nem ridicularizar o atleta por erros cometidos.
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Referências Bibliográficas e Sugestões de Leitura
ARGIMON, Irani de Lima; PALMA, Carolina Coelho; BOAZ, Cristine; DE LA ROSA, Helena Rosa; DALDON, Karen Agostini; NASCIMENTO, Roberta Fernandes Lopes do. Técnicos de futebol e a prática da psicologia no esporte. Psicologia.com.pt: O portal dos psicólogos, Porto, 2006. Disponível em: <http://www.psicologia.com.pt/artigos/textos/A0273.pdf>. Acesso em: 13 ago. 2009.
CEREZO, Cipriano Romero. Um modelo de entrenamiento em el fútbol desde uma visión didáctica. Lecturas: educación física y deportes, Buenos Aires, año 10, n. 80, enero 2005. Disponível em: <http://www.efdeportes.com>. Acesso em: 15 mar. 2005.
FIFA. El entrenador – la dirección técnica. Fédération Internationale de Football Association. [S.l.: s.n.], p. 1-20, [entre 2003 e 2006].
Gestão da Qualidade Total Aplicada no Futebol Profissional. Palestra Prof. José de Souza Teixeira. São Paulo: Total Quality Treinamento & Consultoria, 2003.
GOMES, Antonio Carlos; SOUZA, Juvenilson. Futebol: treinamento desportivo de alto rendimento. Porto Alegre: Artmed, 2008.
HOEK, Frans; VAN VEEN, Paul. Alex Ferguson analisa o papel do talento no futebol. Universidade do Futebol, 2008. Tradução de Estevão Bertoldi Sanches. Disponível em: <http://www.universidadedofutebol.com.br/Jornal/Noticias/Detalhe.aspx?id=3932>. Acesso em: 11 ago. 2009.
LOURENÇO, Luís. José Mourinho: um ciclo de vitórias. 20. ed. Parede: Prime Books, 2006.
MIRANDA, Renato; BARA FILHO, Maurício. Construindo um atleta vencedor: uma abordagem psicofísica do esporte. Porto Alegre: Artmed, 2008.
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Por Fabio Cunha
* Técnico de Futebol; Professor da faculdade de Educação Física da Unifieo; Mestre em Ciências do Movimento (UnG); Pós-graduado em Metodologia da Aprendizagem e Treinamento do Futebol (UGF); Pós-graduado em Psicologia Esportiva (UCB); Pós-graduado em Treinamento, Técnicas e Táticas Esportivas (Fac. Pitágoras) e Bacharel em Esporte com Habilitação em Treinamento em Futebol (USP). Autor dos livros: Torcidas no futebol: espetáculo ou vandalismo? e Técnico de futebol: a arte de comandar. Palestrante em cursos, seminários e congressos em todo o Brasil.
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