ENTREVISTA CÉSAR PELLIN – PROFISSÃO PERSONAL TRAINER

Entrevista com o personal trainer e especialista em esporte César Pellin*.

Prof. César Pellin

Qual a formação necessária para ser personal trainer? Existe algum curso específico?

De acordo com as leis brasileiras, basta o profissional ser diplomado em Educação Física ou Esporte em uma universidade cadastrada no MEC; de posse desta certificação/diploma, o profissional precisa registrar-se no Conselho Regional de Educação Física de sua região de atuação. Com relação aos cursos específicos, considerando que considero fraco o currículo de formação universitária brasileira, eu recomendo que o profissional interessado procure cursos de renome no mercado para ampliar seus conhecimentos. Poderão receber informações novas, através de disciplinas e áreas do conhecimento humano, que não são abordadas no currículo universitário brasileiro para a área de Educação Física e Esporte; que farão fundamental diferença em suas futuras atuações como profissional.

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Muitos estudantes de educação física procuram entrar nessa área logo após a graduação ou ainda quando estão estudando. Você acredita que a formação adquirida na faculdade já habilita os profissionais a exercerem a função de personal trainer? Seria necessária alguma outra formação ou adquirir mais experiência profissional?

Não acredito que a formação das faculdades habilite bem os profissionais a exercerem suas funções. Como mencionei anteriormente, acredito sim que formações complementares relacionadas a atuação alvo sejam necessárias. A experiência profissional é de extrema necessidade para uma melhor atuação no mercado de trabalho. Sou defensor de que, para os cursos de Educação Física e Esporte, sejam adotadas medidas de estágio mais profundas, como na profissão de Medicina, onde ocorrem as chamadas “residências”. Esta medida, se estabelecida como obrigatório pelo órgão nacional regulador responsável, traria muito mais experiência aos profissionais formados que estão prestes a entrar no mercado; em suma, seria uma alteração nas regras dos atuais estágios. Teriam que ser muito mais detalhados, rigorosos e de longo prazo.

Qual o benefício para um aluno/cliente em contratar um personal trainer em relação ao aluno/cliente que procura somente uma academia para treinar?

Espera-se que o “personal trainer” ofereça maior qualidade nos serviços prestados. Ao contratar um “personal trainer”, o cliente deve esperar que este profissional tenha mais possibilidade para “cuidar” do planejamento de seu treinamento. Então, o benefício está diretamente relacionado a isto, espera-se que este profissional tenha mais tempo para cuidar da aplicação e do gerenciamento das atividades estabelecidas ao cliente; envolve sim criar o planejamento com uma ideia de estratégica das ações de treinamento a serem utilizadas para atingir o objetivo do cliente.

O personal trainer deve ter uma especialização no seu serviço, por exemplo, para atletas, melhor idade, crianças e jovens, emagrecimento, promoção da saúde etc., ou pode ser geral? Você acha que um profissional pode atuar de forma eficiente em qualquer uma das áreas do treinamento?

Devido a quantidade de conhecimento que temos disponível nos dias de hoje, quanto mais específico for o direcionamento do profissional, certamente será melhor, porque é extremamente difícil dominar toda esta grande quantidade de informação. Principalmente quando o profissional tiver que direcioná-las para a particularidade de cada um de seus clientes, são muitos aspectos a considerar e podem resultar muitos desdobramentos. Até imagino ser possível atuar de forma eficiente em qualquer área do treinamento, mas, muito improvável. Teríamos que ter um bom entendimento sobre o que se considera ser “eficiente” em uma atuação profissional.

Alguns profissionais atuam de forma autônoma e outros são professores em academia também, qual o diferencial positivo e negativo nessas duas práticas?

Vejo vários pontos negativos em se manter vinculado a uma academia por um longo período de tempo. Atuar em academia traz o grande e real incômodo de uma baixa remuneração salarial. Temos academias que investem na qualificação profissional de seus assalariados, mas fica bem longe da qualificação que cada profissional pode fazer por si. Alguns consideram o fato de ter um emprego mais estável como um fator importante, não enxergo desta forma. Livre da carga horária que você tem que cumprir no emprego, você pode realizar coisas mais importantes e valiosas; como se qualificar e ganhar mais dinheiro em prestação de serviço particular. 

Um ponto positivo importante para se vincular a uma academia, para quem está começando a atuar no mercado, é que as academias são ótimos locais para os profissionais se tornarem conhecidos.

Como você definiria a postura de um personal trainer em relação ao seu aluno/cliente? Como deve ser o relacionamento?

Em um primeiro momento profissional, mas nada impede que se estabeleça uma amizade. Agora, mesmo se estabelecendo uma relação de amizade, o lado profissional não pode ser descartado; o que pode ser muito difícil para as pessoas. A questão profissional é primordial sim, mas não necessariamente é impeditiva para uma manifestação de amizade; cabe ao profissional conseguir administrar esta questão.

Como você vê o mercado atual para novos profissionais de personal trainer? Existem oportunidades? Está saturado?

Sim, existem oportunidades para aqueles que oferecem serviços diferenciados. Está saturado para a mesmice de alguns serviços de treinamento prestados há vários anos, sem variação, sem planejamento, sem controle e sem riqueza de detalhes.

Qual a sua visão sobre o futuro do personal trainer no Brasil? Você acredita que esse tipo de trabalho é uma tendência do futuro?

Sim, acredito piamente. Mas só para aqueles que buscarem conhecimento além das universidades e se qualificarem muito bem em suas áreas de interesse, para estes, acredito sim que não faltarão clientes. O que pode ocorre devido as crises econômicas brasileiras, são oscilações nos preços praticados por causa da diminuição de poder aquisitivo dos clientes; mas não acredito na falta destes.

Como é a remuneração dos profissionais, existe algum padrão?

Não existe um padrão, você consegue informações dos valores que são praticados em determinadas regiões ou locais para tipos específicos de serviços. Tudo acontece muito relacionado a livre concorrência.

Quais dicas você daria para quem quer ingressar nessa área? Existe um caminho a seguir?

Graduação em uma universidade em um primeiro momento, até por ser o passo essencial de acordo com a legislação nacional. Após isso, sugiro uma busca por qualificação nos diversos cursos oferecidos no mercado; prestar especial atenção nos cursos internacionais, existem cursos muito bons com preços que não são abusivos.

*CESAR PELLIN (CREF 06405G/SP)Mestre em Controle de Carga Externa de Treinamento em Futebol (Universidade de Tras-os-Montes e Alto Douro, Portugal); Treinamento em Alto Rendimento (Universidade Nacional de Cultura Fisica, Esporte e Turismo – Rússia); Bacharel em Esporte (USP).