Nessa entrevista falamos com o renomado jornalista do SporTV Luiz Ademar*.
Qual a formação necessária para exercer a função de jornalista esportivo? Existe algum curso específico?
A formação é cursar faculdade em jornalismo. Existe também o curso Rádio e TV. Mas, por ser mais completa, eu indico o jornalismo. Cursos de aprimoramento existem vários, inclusive ministrados por jornalistas esportivos. Mas as grandes empresas geralmente pedem formação em jornalismo e exigem facilidade em idiomas (inglês e espanhol).
Você acha que as faculdades estão preparadas para formarem novos jornalistas esportivos no Brasil? O mercado está pronto para aceitar esses profissionais advindos das faculdades?
É preciso entender que as faculdades formam jornalistas e não jornalistas esportivos. Somos todos jornalistas, que precisamos nos preparar adequadamente para trabalhar em qualquer editoria: esportes, economia, política, polícia, artes e espetáculos etc. Claro que o profissional tem determinada preferência, pode e deve se especializar em determinada editoria, e procurar seguir o seu caminho. Mas é obrigatório estar pronto para atuar em todos as áreas. Eu iniciei no jornalismo policial, em jornal pequeno, pedi para fazer parte também do esporte, e fui me especializando em esportes, por exemplo. Entendo que as faculdades conseguem passar apenas a parte teórica com precisão. A prática, sinceramente, nem tanto, apesar de contarmos com excelentes faculdades. Cabe ao aluno gostar de ler e escrever muito, se informar e procurar se especializar ao longo do curso. E, assim como em todas as profissões, o mercado jamais conseguirá absorver tantos profissionais que se formam em todos os anos.
Você acredita que, no Brasil, o jornalismo esportivo é reconhecido ou as outras modalidades, como jornalismo político e econômico são mais valorizados?
Entendo que o jornalismo esportivo no Brasil é extremamente valorizado, muito cobrado e de grande reconhecimento. O futebol é a principal diversão do povo brasileiro. Paixão pura, muitas vezes passional e violenta. Tudo que se refere ao jornalismo esportivo é muito consumido. E por isso a cobrança é enorme. É preciso muita responsabilidade porque lidamos com paixão, muitas vezes sem razão, por parte dos torcedores. Essa reflexão deve ser feita por todos os profissionais antes de escreverem, analisarem ou até mesmo brincarem com clubes e jogadores. Entendo que todas as áreas do jornalismo são importantes, mas a área esportiva, por ser mais atraente e apaixonante, é mais valorizada e tem maior visibilidade.
Quais as grandes dificuldades que você vê na área e o que fazer para mudar esse quadro?
A maior dificuldade no jornalismo esportivo é o pequeno número de postos de trabalho para tanta gente formada ou se formando. Impossível mudar esse quadro em curto espaço de tempo, com governo fraco, irresponsável, repleto de falcatruas e sem inteligência para mudar a economia e gerar empregos. O que mais acontece na área esportiva atualmente é o corte no quadro de funcionários. Além de fechamentos de jornais, equipes esportivas de rádio etc.
Qual a grande diferença em trabalhar em rádio, TV e internet?
Em jornal e internet se trabalha muito mais. Escrevemos mais matérias, em curto espaço de tempo. É preciso apurar, checar e escrever muito rápido. Muitas vezes no próprio dia. Rádio é apaixonante e imediato, com sobrecarga de trabalho enorme também, além do contato direto com o ouvinte. TV também é apaixonante, mas o tempo para analisar é curto. É preciso saber resumir e se expressar muitas vezes em menos de um minuto.
Você acha que a experiência dentro de campo de um ex-atleta profissional é suficiente para assumir uma função de comentarista?
Só a experiência de ex-atleta não basta. É preciso vivência em gestão esportiva, domínio da língua portuguesa, coerência para fazer críticas e, principalmente, não ser corporativista.
Como é a remuneração dos profissionais, existe algum padrão, piso ou teto salarial? Os iniciantes conseguem viver só do jornalismo esportivo?
Depende muito da empresa. Eu comecei da Folha Metropolitana de Guarulhos e casei logo em seguida. De 1991 até agora sempre me sustentei e sustentei a minha família por meio do jornalismo esportivo. Claro que tive a sorte de trabalhar em grandes empresas e com bons salários. Por isso, eu entendo, que depende muito da empresa. Iniciantes na TV Globo ou Sportv, onde trabalho, conseguiriam se sustentar. Em uma emissora de rádio ou em um jornal pequeno, claro, não conseguiria. Em relação a piso, sinceramente, eu não sei. O sindicato dos jornalistas está mais preocupado em apoiar o PT, sem saber a opinião de toda a categoria, do que cuidar de assuntos salariais. Ou seja, nós, os jornalistas, estamos a pé em relação ao sindicato. Portanto, esse negócio de piso, não é tratado de maneira séria em nosso país.
Qual a sua visão sobre o futuro do jornalismo esportivo no Brasil?
Eu acredito que vem melhorando muito. Os profissionais estão se especializando cada vez mais. Existe um campo vasto, a internet, que ainda vai expandir muito. Exemplos: Web Rádio, Web TV, Jornais e sites especializados. Os próprios clubes precisam trabalhar seus sites oficiais, TVs e Rádios. Tudo isso vai trazer maiores possibilidades no jornalismo esportivo. Tenho confiança que o futuro será promissor.
Quais dicas você daria para quem quer ingressar nessa área? Existe um caminho a seguir?
O primeiro é se formar em jornalismo. Depois se aperfeiçoar em outros idiomas, gostar de ler e escrever muito. Aceitar desafios em qualquer editoria. Saber que as dificuldades iniciais serão muitas. Perseverança e força de vontade. E seguir seus impulsos, muitas vezes sabendo que no interior ou estados menores, as possibilidades iniciais poderão ser maiores.
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Muito boa matéria, simples e objetiva!