ENTREVISTA PAULO JAMELLI – COACH ESPORTIVO

Conheça sobre o Coach no Futebol nessa entrevista com o ex-atleta e coach esportivo Paulo Jamelli*.

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Qual a formação necessária para ser coach esportivo? Existe algum curso específico?

A profissão de coach ainda não é regulamentada no Brasil. O coaching esportivo é bem específico, então as pessoas precisam procurar uma base em psicologia esportiva e realizar todos os cursos de coach, desde o básico até o nível mais alto. Não são cursos oficiais de formação superior, mas são os cursos que lhe darão o credenciamento para exercer essa função, mesmo ainda sem reconhecimento como profissão.

Como é a atuação de um coach dentro do futebol? Quais as atribuições dessa função?

A área de atuação do coach, mais especificamente falando do futebol, pode trabalhar individualmente com o atleta de alto rendimento ou com o atleta em formação das categorias de base ou coletiva com a equipe. O coach pode ser utilizado também com os treinadores e na gestão, na parte corporativa, na parte de entrosamento entre as equipes de gestão e comissão técnica, com jogadores, colaboradores. Então cada clube pode adaptar conforme sua necessidade, é uma área de atuação bem ampla que pode ser feita de uma vez ou por módulos.

O trabalho de coaching pode ser comparado com o trabalho psicológico? Quais seriam as principais diferenças?

O trabalho de coaching tem tudo a ver e caminha paralelamente ao trabalho do psicólogo da equipe. É mais ou menos como você falar do preparador físico, do fisioterapeuta e da nutricionista, ou seja, um conjunto. O coach cuida mais da parte de objetivos, de metas e fazer com que a pessoa se conheça cada vez mais, é um trabalho de dentro para fora, sempre sugerindo e buscando o autoconhecimento e as soluções dentro da própria pessoa e dentro do grupo. Já o psicólogo faz um trabalho mais a longo prazo, não é tão determinado como o coaching que vai do ponto A para o B, como metas mais curtas e tempo, o psicólogo pensa mais a longo prazo e pode até sugerir alguma terapia caso seja necessário, mas os dois trabalhos atuam em conjunto e um complementa o outro.

Como está a aceitação desse tipo de trabalho por parte dos profissionais do futebol?

A aceitação do trabalho de coaching, no meu caso, seja no futebol ou em esportes individuais foi sensacional, a receptividade foi muito boa, porque a maioria das pessoas com quem conversei conheciam ou já tinham uma ideia do que era o trabalho, e sabiam da minha trajetória, do que eu passei como jogador, como gerente, como treinador e diretor de clube. Então desde o início a recepção foi muito boa, pois consegui explicar com muita clareza, com muita transparência o que era o trabalho de coaching dentro do esporte.

Você acredita que um profissional de coaching é uma figura obrigatória dentro de uma comissão técnica no futebol moderno ou é mais recomendado como um trabalho a parte?

Eu acredito que em alguns anos o profissional de coaching será uma peça chave dentro das comissões técnicas, seja na comissão permanente do clube ou na comissão que o treinador leva para o clube onde irá trabalhar. Uma comparação que faço é com o analista de desempenho, como era a 10-15 anos atrás e como é hoje, muitos treinadores não levam auxiliar ou preparador físico, mas não abrem mão do seu analista que já está acostumado com seu trabalho.

Então, acredito que o profissional de coaching no esporte com decorrer dos anos vai ser parte da comissão como é o nutricionista, psicólogo, preparador físico, preparador de goleiros, analista de desempenho, supervisor. Tenho muito claro isso, que pouco a pouco os clubes vão entender essa necessidade e a maneira disso acontecer é o individual, os atletas e os treinadores que fizerem esse trabalho individual darão um feedback aos gestores mostrando a importância do trabalho.

O que acha do mercado de coaching no Brasil? Estamos muito longe do mercado americano e europeu?

Acho que estamos muito atrás, principalmente com relação aos Estados Unidos e Europa. Para dar uma ideia, parei de jogar profissionalmente a 10 anos e quando joguei na Espanha já existia um trabalho de coaching no futebol. Existem muitas publicações na Europa e nos Estados Unidos sobre coaching e, aqui no Brasil, estamos praticamente começando. Muitas pessoas não conhecem e não entendem, e as que conhecem só sabem superficialmente. Então o trabalho de divulgação é muito importante. Mas temos uma responsabilidade grande, por ser uma profissão nova, de não banaliza-la. A pessoa fazer um curso de dez horas, a distância e sair falando que é coach. Enfim, cabe ao mercado fazer uma triagem e seleção, pois como em todas as profissões temos bons e maus profissionais e é o mercado que deve selecionar isso.

Como é a remuneração dos profissionais, existe algum padrão, piso ou teto salarial?

Eu trabalho com blocos de dez sessões, isso falando do trabalho individualizado, no caso de clubes onde seriam grupos maiores, um trabalho mais elaborado em termos de quantidade horas. No caso individual é estipulado um valor desse bloco, que é variável de acordo com o objetivo e a necessidade de dedicação ao trabalho junto ao coachee (cliente). O valor é muito variável, não existe uma tabela, depende muito do bom senso, dos acordos entre as partes e do tempo de dedicação e atuação do coach.

Quais as grandes dificuldades que você vê na área e o que fazer para mudar esse quadro?

Acredito que no futuro será mais divulgado, mais utilizado. Uma das dificuldades é justamente a novidade, tudo que é novo cria uma dúvida nas pessoas, pois ainda não conhecem o assunto. Uma outra dificuldade é com relação a diferenciação entre coaching e psicologia, o que é análise, o que é psiquiatria, o que é assessoramento, o que é mentoring, isso ainda não está muito claro para as pessoas. Temos também algumas barreiras, principalmente dentro do futebol, quanto ao psicólogo, não se valoriza o trabalho da psicologia do esporte, mas já existe um processo de mudança. Resumindo, a falta de conhecimento do que é o coaching e o pré-conceito de não querer conhecer, principalmente pela gestão dos clubes. Os atletas e os treinadores já aceitam melhor esse trabalho.

Qual a sua visão sobre o futuro do coaching no futebol?

Sobre o futuro do coach no futebol, eu acredito que vai ficar cada vez mais evidente que a parte mental do atleta, ganha jogos, bate recordes, supera obstáculos, supera objetivos e isso vai fazer a diferença. Hoje você tem excelentes profissionais na parte física, excelentes treinadores na parte técnica, o futebol está sendo muito estudado na parte tática, eram os três aspectos principais do futebol: técnico, tático e físico/fisiológico. Mas vemos estudos, no futebol e em outras modalidades também, que mostram que o atleta que é mais equilibrado e está mentalmente mais forte é realmente o que ganha, o que chega. Então, vejo que o coaching que se preocupa com essa parte mental, de bem-estar, de deixar o atleta cada vez mais preparado, ele é fundamental para quem quer estar na frente. Nem sempre o melhor preparado tecnicamente, taticamente ou fisicamente vence se não estiver mentalmente preparado para os desafios.

Quais dicas você daria para quem quer ingressar nessa área? Existe um caminho a seguir?

A pessoa deve se preparar, buscar a formação, fazer cursos, de repente até no exterior. Buscar o conhecimento em instituições sérias e realmente reconhecidas, não ache que em quinze minutos conseguirá o conhecimento necessário para ser coach, porque, como tudo na vida, você precisa de “horas de voo”, de experiência, de preparo. O fundamental é o conhecimento, conversar com pessoas que já atuam nessa área, aprender sempre.

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*Paulo Roberto Jamelli Júnior é coach esportivo e jornalista esportivo. Ex-atleta de futebol profissional com passagens na Seleção Brasileira e, em clubes como: São Paulo, Santos, Corinthians, Atlético Mineiro, Juventus (SP), Kashiwa Reysol (Japão), Zaragoza (Espanha), Shimizu S-Pulse (Japão), Almería (Espanha), Grêmio Barueri (SP); Membro da ABEX – Associação Brasileira dos Executivos de Futebol; Gerente de Futebol no Santos, Coritiba e Grêmio Barueri; Treinador de Futebol no Independente (SP), Marcílio Dias (SC) e Grêmio Mauaense (SP); Graduado em Gestão Esportiva; Licença B Treinador – CBF; Certificação Internacional de Coaching.

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