ENTREVISTA HELDER BAPTISTA – TREINADOR DE FUTEBOL EM PORTUGAL

Entrevistamos aqui o treinador Helder Baptista* que nos conta como é a formação e a preparação para se tornar treinador de futebol em Portugal.

Helder Baptista

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Qual a formação necessária para ser técnico de futebol em Portugal? Existe algum curso específico?

Em Portugal, integrando a UEFA e a FIFA, vigora a formação sob regime daqueles organismos. Quatro níveis de formação: Nível I e II – Basic, Nível III – UEFA Advanced e Nível IV – UEFA PRO, organizados pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e pela Associação Nacional de Treinadores Profissionais (ANTF), em conjunto e complementariedade com o Instituto Português de Desporto e Juventude (IPDJ).

Nas duas principais divisões: I Liga e II Liga, é necessária a formação de Treinador de IV nível e cédula de Treinador Grau III, emitida pelo IPDJ.

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Quais as principais características do profissional que pretende atuar na direção técnica de uma equipe?

Assim, penso que a liderança emocional e a capacidade de comunicação são prioritárias. Por um lado, há necessidade de motivar e envolver os jogadores num objetivo comum e, por outro lado, o conhecimento táctico-estratégico definindo princípios de jogo adaptando modelo de jogo e treino à realidade de cada clube e do plantel.

Como a formação dos técnicos de futebol em Portugal está em relação à formação nos outros países?

Penso que alinhada com os países integrados na UEFA, com competência e rigor ao abrigo dos programas da FPF e da ANTF. De dois em dois anos há um curso/turma de III nível e IV nível, alternadamente, e são durante o ano efetuados diversos seminários e conferências de reforço e especialização.

Hoje se valoriza muito a profissão de técnico de futebol, você acredita que os profissionais estão realmente preparados para essa valorização? A formação realmente prepara para essa realidade?

A formação é fundamental, mas não podemos descurar as características intrínsecas que enumerei atrás e que me fazem acreditar que, como em qualquer outra profissão, o treinador de futebol nasce e adapta-se. Tendo necessidade de se atualizar, acompanhar o desenvolvimento do futebol nos vários paradigmas e ser proativo na participação e partilha de conhecimentos.

No futebol brasileiro se valoriza muito os ex-atletas para assumirem cargos de direção técnica, mesmo com pouca ou sem formação, como é essa relação do ex-atleta com o cargo de técnico em Portugal? Você acredita que a experiência como jogador é fundamental para a função de técnico?

Também acontece, e hoje os ex-jogadores já fazem curso de treinador ainda estando a jogar. Preparam a entrada e oportunidade em novos desafios. No entanto e, pós-Mourinho assistimos ao surgimento de Professores de Educação Física como técnicos e penso que hoje estamos numa maturação da profissão em que há oportunidade para outros desde que qualificados para o efeito.

Quais seriam os profissionais que deveriam integrar a comissão técnica de uma equipe de alto rendimento, no futebol de formação e no seniores (profissional)?

A constituição de uma equipa técnica deve merecer máxima atenção e reflexão, reunindo profissionais especializados nos momentos de jogo. Assistimos nos últimos anos a uma aproximação do futebol ao que se faz na NBA e no futebol americano.

Assim, o treinador principal deve reunir-se na formação de um adjunto que assuma responsabilidade no treino, metodólogo, um outro adjunto específico do trabalho de guarda-redes (goleiros) e um outro que complemente as suas capacidades e conhecimento ao nível do jogo.

No futebol profissional a equipa técnica, além daqueles, deve incluir um analista de jogo, da própria equipa e dos adversários, e um especialista na recuperação de jogadores, complementar ao departamento médico do clube, mas que esteja mais focalizado no momento da reintegração, após paragem ou lesão.

Como o futebol português encara os profissionais da área técnica que veem do Brasil? Os técnicos brasileiros possuem abertura no mercado português?

O futebol português está a formar em qualidade e quantidade, até acima das necessidades, profissionais de futebol. Mas a nossa cultura e cidadania leva-nos a receber e procurar bons profissionais em todo o mundo. O colega brasileiro, como de qualquer outra nacionalidade, é bem-vindo, desde que acrescente competência e partilhe conhecimentos.

Em sua opinião, existe um perfil de liderança ideal para o técnico de futebol?

Complemento a resposta à segunda questão, dizendo que sim, será aquele que com capacidade de sacrifício consegue gerar consensos numa análise coletiva e participativa entre equipa técnica, jogadores, departamentos de suporte e Direção do Clube.

Quais dicas você daria para quem quer ingressar nessa área? Existe um caminho a seguir?

Existe o caminho do ACREDITAR, definindo com critério o que necessita atingir em cada etapa, conhecendo o futebol desde formação até ao profissional. Valorizando-se em ações de formação técnica, motivacional, coaching é hoje em dia fundamental na abordagem diária num Clube. Ser especialista na relação individual e colectiva com todos os intervenientes no jogo.

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*Helder  Luis Carlos Baptista é treinador de futebol. Iniciou em 1999 num pequeno Clube do Norte de Portugal, CCD Santa Eulália, e na época seguinte passou para o Futebol Clube de Vizela, onde treinou os escalões de sub-14, sub-17 e sub-19. Durante 7 épocas, além de treinador, também foi Coordenador do departamento de formação. Após 2007 passou a treinar equipas de futebol sénior, inicialmente no campeonato regional de Braga e depois no primeiro escalão nacional a III Divisão, hoje conhecida como Campeonato de Portugal. Nas últimas épocas tem integrado o futebol profissional na II Liga de Portugal. 2014/16 Adjunto no Olhanense SC, com a responsabilidade de scout, e em 2016/ 17 no FC Famalicão como Diretor Técnico da Formação, responsabilidade na certificação da Academia de formação.

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