Existe uma defasagem histórica na formação dos técnicos brasileiros. Foram anos entendendo não se fazer necessário estudar futebol. A ciência não era bem-vinda a esse ambiente, falta de hábito com os livros era comum, existia o medo do novo. As conquistas mundiais deixaram de herança a soberba.
Há bem pouco tempo, o perfil do treinador brasileiro era polarizado entre o ex-jogador de futebol e o acadêmico. O ex-jogador com experiência de vestiário, domínio do campo e, principalmente, o saber fazer, faltando-lhe fundamentação teórica para conduzir atletas ao conhecimento. O acadêmico com a ciência a seu favor e o domínio da pedagogia – sabe o que, quando, como e porque ensinar. Porém, desconhece os atalhos de quem vivenciou inúmeras experiências práticas.
Sai na frente o treinador que tem a experiência prática como atleta de futebol, a formação acadêmica aliada a atualização em cursos de liderança e gestão de pessoas. Em síntese, ganhará espaço o técnico antenado as novas tecnologias e domínio na comunicação com jovens, entendendo o futebol como um organismo vivo e em constante transformação. O arcabouço teórico acima descrito está à disposição nos cursos de qualificação ministrados pela UEFA e, mais recentemente, pela CBF.
A entidade inaugurou o Curso de Formação de Treinadores em 2009. Nomes como Hélio do Anjos, Renê Simões, os campeões mundiais Roque Junior e Taffarel, e também Eduardo Batista e Doriva abrilhantam o curso. O treinador da Seleção brasileira, Dunga, deu a importância que o curso merece marcando presença.
Os treinadores baianos antenados com esse movimento se fazem presentes também. São eles: Marcelo Chamusca, Charles Fabian, Wesley Carvalho e Hamilton Mendes. Sinto-me orgulhoso de participar desse momento histórico de transformação do nosso futebol. Tenho estes grandes profissionais como colegas de turma e ainda colaboro como instrutor no desenvolvimento de técnicos que se habilitam para a formação de jovens atletas.
.
Outras reflexões
O Brasil era o único país do mundo com estilo de arbitragem que provocava redução na intensidade do jogo. Excesso de faltas marcadas, diminuição do tempo de bola rolando, etc. Essa mentalidade tem mudado nos últimos anos, principalmente com a Cruzada Pelo Respeito, campanha criada pela Comissão de Arbitragem da CBF.
Outro ponto é a imprensa esportiva, que vê o jogo atual, mas analisa os fatos alicerçados em conceitos do futebol praticado em décadas passadas. Conhecer e reconhecer o passado é fundamental para entender o presente e projetar o futuro. Ficar preso ao passado pode trazer uma melancolia nada funcional. Alguns profissionais já reconheceram esta questão, e inclusive começaram a procurar cursos técnicos para se especializar.
Mais uma reflexão necessária refere-se a constante troca de treinadores. Em média, a cada 15 rodadas um treinador perde o emprego – recorde mundial. Na Bahia, a situação é ainda pior – treinadores são demitidos com apenas um ou dois jogos, fruto de um imediatismo dos nossos dirigentes, que também necessitam de qualificação mais apropriada. Na Itália, pior cenário no mundo europeu, o comando é trocado, em média, com 45 rodadas (uma temporada).
O crescimento do nosso futebol passa pela qualificação dos treinadores, sejam da base ou da equipe profissional, afinal eles têm a missão de (trans)formar. Treinadores melhores, jogadores melhores, jogo melhor.
.
Por Carlos Amadeu
* Ex-jogador de futebol, técnico da seleção brasileira sub-17 e MBA em Gestão Esportiva
.
.
Fonte: http://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/artigo-a-formacao-do-treinador-brasileiro/
.
.
.