ENTREVISTA FEDATO FILHO – FISIOLOGISTA NO FUTEBOL

Nessa entrevista falamos com o conceituado fisiologista do Corinthians, Fedato Filho*. Saiba mais como é o dia a dia da profissão e como ingressar nessa carreira.

Fedato Filho (foto: Djalma Vassão/Gazeta Press)

Quais são as atribuições do fisiologista do esporte?

Na minha opinião, as atribuições de um fisiologista dentro do esporte são de primeiramente ter uma leitura inicial do atleta por meio das avaliações físicas e fisiológicas classificando os atletas baseado em referências e a partir daí auxiliando na montagem de uma programação de treinamento. Em um segundo passo, iniciando os treinos seguir monitorando cada sessão de treinamento buscando avaliar se a direção da programação inicial está seguindo na direção correta ou se tem a necessidade de correções durante o caminho.

 

Qual a formação necessária para exercer essa função?

A formação pode vir da Medicina esportiva e, principalmente da Educação física, pois existe total necessidade de conhecimento de treinamento físico, ambas com especialização em Fisiologia do Exercício

 

Qual a especificidade da fisiologia para o futebol?

A fisiologia sofreu uma grande evolução de seu início para o que temos hoje em dia, cada vez ela se torna mais específica principalmente em relação as novas tecnologias que vem surgindo específicas para o uso no futebol. O surgimento de GPS, acelerômetros, câmeras que analisam todos os atletas em um jogo, a maioria dos equipamentos em tempo real, ente outros deixou o trabalho da fisiologia muito mais voltada ao dia a dia dentro do campo. As avaliações físicas também sofreram essa evolução, trazendo testes de campo muito mais específicos para o futebol tirando o atleta quase totalmente de dentro do laboratório.

 

Até qual momento o fisiologista pode atuar para não entrar no trabalho do preparador físico?

O fisiologista atualmente se tornou mais um profissional de campo, ele tem o papel de mostrar para a comissão técnica o maior numero de informações que irá auxiliar na decisão do treinador, como por exemplo, atletas mais desgastados ou aquele que ainda não atingiu sua melhor performance.

A relação com o preparador físico é de maior importância, pois ele se tornou um auxiliar de campo que por meio das monitorações dos treinamentos ajuda a ter uma leitura do treino mostrando, por exemplo, qual variável treinamos, se aquela sessão de treino cumpriu o que havíamos programado em relação ao condicionamento físico, portanto esse trabalho tem que ser em conjunto, o preparador físico aplica os treinos dentro das variáveis que foram programadas e o fisiologista monitora para termos a certeza que o resultado foi o desejado.

 

O preparador físico pode acumular o trabalho do fisiologista ou já se pode considerar uma função indispensável no esporte?

Acredito que já virou uma função indispensável, mesmo o preparador físico tendo em alguns casos os conhecimentos necessários para a função de fisiologista ainda faltará um banco de dados com referências consistentes, pois fica muito difícil, pelo grande número de equipamentos e informações que devem ser coletadas e analisadas, o preparador físico acumular essas duas funções.

 

Você acha que os clubes de alto rendimento que não possuem fisiologista estão defasados?

Sim, com certeza, os clubes que pretendem ter um trabalho profissional e seus treinamentos baseados em informações científicas auxiliando na minimização dos erros, detalhe importante no alto rendimento, não podem ficar sem essa disciplina dentro da comissão técnica.

 

Qual a importância do fisiologista nas categorias de base? Como esse profissional pode atuar na formação de atletas?

Da mesma forma que o fisiologista na categoria principal trabalha para levantar todos os tipos de informação do atleta que auxilie em atingir seu melhor rendimento, o fisiologista da categoria de base também tem o papel de levantar o maior número de informações do atleta, mas com enfoques diferentes, nas primeiras categorias visando o desenvolvimento para levar o garoto a se tornar um atleta monitorando o trabalho para garantir que nenhuma etapa seja pulada e que os atletas estão treinando o adequado para cada faixa etária até chegar na última categoria da base visando preparar o atleta para a categoria principal.

 

Como você vê o mercado atual da fisiologia no esporte?

O mercado para o fisiologista cresceu muito desde que iniciei no futebol há 17 anos, hoje praticamente todos os clubes do Brasil das séries A e B tem um fisiologista e os outros clubes estão também se equipando e contratando profissionais da área, em outros esportes a ciência também está concretizada e em alguns casos muito mais enraizada do que no futebol, mas a tendência que que não pare de crescer no esporte em geral.

 

Qual a sua visão sobre o futuro da fisiologia no Brasil?

Acredito que o papel do fisiologista se tornou tão importante que a tendência é que todos os clubes tenham o seu profissional e o avanço da ciência e estudos do futebol irá crescer cada vez mais.

 

Quais dicas você daria para quem quer ingressar nessa área? Existe um caminho a seguir?

Minha dica para aqueles que já descobriram que serão apaixonados pelo que irão fazer é primeiramente estudar muito e se atualizar sempre, trabalhar muito mais do que irá ganhar inicialmente, que só assim seu trabalho evoluirá e será conhecido por profissionais da área tendo a chance de alcançar trabalhos cada vez maior e mais valorizados.

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*Antonio Carlos Fedato Filho é Fisiologista da equipe profissional do S. C. Corinthians Paulista. Graduação em Educação física (FEFISA); Especialização em Fisiologia do Exercício (UNIFESP); atuou como fisiologista na Federação Paulista de Futebol (Preparação física da Arbitragem); A.D. São Caetano; Seleção Nacional Arábia Saudita; Seleção Brasileira de Futsal; Portuguesa de Desportos; Sociedade Esportiva Palmeiras. Conquistou os títulos: Campeão Brasileiro de Futebol (2011 e 2015), Campeão da Libertadores da América (2012), Campeão Mundial de clubes (2012), Campeão Paulista (2004 e 2013), Campeão da Recopa Sulamericana (2013).

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