COMO UTILIZAR O FEEDBACK NA APRENDIZAGEM

Estruturação da informação

Segundo SCHMIDT (1993), para que se consiga estruturar a informação contida no feedback é necessário que se leve em conta alguns princípios, como as questões em torno do conteúdo das apresentações e manifestações do mesmo.

treinamento 5 (1)Os princípios podem ser resumidos da seguinte forma:

– O conteúdo do feedback deve se igualar e estar ao alcance do que o executante, o aluno ou o atleta pode controlar. Uma informação poderia causar uma alteração na execução do movimento. De qualquer forma o feedback sobre os aspectos do programa é difícil para os alunos ou atletas utilizarem, mas é muito importante na modificação de programas motores incorretos.

– O feedback sobre as variáveis e sequências do programa motor, a organização temporal, promove modificações na estrutura fundamental deste programa. 

– Especificar os parâmetros como velocidade, distância ou força de um determinado padrão de movimento, contribuindo para a aprendizagem.

– Fornecer o feedback do programa motor antes do feedback do parâmetro.

Quantidade de informação

Segundo os princípios citados acima, um fator de grande destaque na estruturação do feedback seria a quantidade de informação apresentada ao aluno ou ao atleta. Sob este aspecto deve-se levar em consideração as limitações do processamento de informações e das capacidades adquiridas de memória do executante, de forma que se torna duvidoso que ele possa ser capaz de absorver e reter muita informação, durante a apresentação do feedback. Também pode ser questionada a eficiência, por parte desse executante na correção do próximo movimento (SCHMIDT, 1993).

Para tanto, SCHMIDT (1993) sugere que a atenção seja focalizada, a princípio, nas deficiências do aluno no padrão fundamental do movimento. Desta forma, deve-se concentrar em no máximo duas fontes de feedback de cada vez para evitar a sobrecarga no processamento de informação e nas capacidades de memória do atleta ou do aluno.

O primeiro feedback a ser apresentado deve estar relacionado com os aspectos do padrão motor mais importantes para o sucesso na execução do movimento. Os aspectos menos críticos devem ser enfatizados quando o atleta estiver polindo ou refinando suas habilidades.

Devem ser desenvolvidas palavras-chaves e frases para apresentar o feedback, evitando assim a necessidade de dar longas explicações sobre as correções necessárias, tornando-o desta maneira mais objetivo.

Segundo McGOWN (1991), uma forma bastante eficiente de feedback seria a demonstração enfatizada em seus pontos principais com as palavras-chaves, sendo assim, capaz de caracterizar o essencial da execução da tarefa motora, que tem, pelo menos quatro funções muito importantes a desempenhar:

– Concentrar informação.

– Reduzir o número de palavras, diminuindo assim as exigências levantadas ao processamento da informação.

– Focalizar a atenção do praticante na informação mais relevante.

– Auxiliar a memória.

Variação da informação

feedback a cerca de erros de execução em habilidades pode ser expresso tanto em termos da direção do erro, da magnitude do erro, ou dos dois, e com níveis variáveis de precisão (SCHMIDT, 1993).

Na análise dos erros, não se deve acentuar a atenção em mais de 1-2 erros cometidos. Seria desejável evitar observações que assinalem apenas os defeitos, devendo-se também ressaltar os aspectos positivos, incutir no atleta segurança nas suas forças e no êxito do ensino (ZAKHAROV, 1992).

Informação sobre a direção do erro do atleta (por exemplo: se, errou para esquerda ou direita, para cima ou para baixo) é muito importante para conduzir o movimento em direção ao objetivo e a informação de feedback, torna-se ainda mais eficaz e útil se, junto à direção, for indicado também à magnitude do erro (SCHMIDT, 1993).

A precisão do feedback é importante até certo ponto, mas esforços adicionais para aumentar a precisão não proporcionam ganhos extras na aprendizagem. Além disso, depende do nível de aprendizagem. Na fase cognitiva, os erros são tão grandes que a informação precisa sobre o tamanho exato dos erros não é relevante. Numa fase autônoma, pelo contrário, a apresentação de feedback impreciso poderia causar desorientação. De qualquer modo, o feedback deveria ser prescritivo, de maneira que o atleta saiba como modificar o movimento na próxima tentativa e que ocorra correção eficiente (Newell & McGinnis, citados por SCHMIDT, 1993). Neste tipo de feedback o instrutor prescreve uma solução para o erro na execução do movimento, tentando direcionar o executante para a resolução efetiva.

Rogers, citado por GODINHO, MENDES e BARREIROS (1995) encontrou efeitos negativos resultantes no aumento da precisão. Um excesso ou um déficit pode produzir efeitos semelhantes e contrários ao desejável em termos de aprendizagem.

Uma das formas de aumentar a precisão do C.R. é modificar a forma de transmissão de informação, outra forma é fornecer informação sobre velocidade e/ou força desenvolvida no movimento.

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Programação do feedback

Sabendo agora qual informação dar ao atleta e como essa informação deve ser apresentada, falta somente à programação do feedback, ou seja, quando dar ou não o feedback, quão rapidamente deve ser fornecido etc. Sabe-se, de acordo com a literatura que estas variáveis são de grande importância e tem profundos efeitos sobre a aprendizagem, estando sobre controle do técnico (SCHMIDT, 1993).

Quando se fala de programação de feedback, basicamente se tem definido dois tipos gerais. De acordo com SCHMIDT (1993) esses tipos são:

– frequência absoluta de feedback, que se refere ao número de apresentações de feedback dadas ao atleta ao longo de um conjunto de tentativas de prática;

– frequência relativa de feedback, que se refere à porcentagem de tentativas que estão recebendo feedback.

De forma geral, aumentar o número de tentativas que recebem feedback melhora a aprendizagem. Isto se torna ainda mais real se um atleta não puder detectar seus próprios erros sem feedback, como ocorre quando fica difícil detectar se o objetivo foi alcançado ou quando o resultado precisa ser computado após a execução do movimento.

Em situações em que o técnico está envolvido com um grande número de atletas, aumentar o feedback ajudará na performance e na aprendizagem. Porém, há algumas limitações nesta regra, especialmente onde o feedback pode ser muito frequente. Neste caso SCHMIDT (1993) sugere que:

– Durante a prática se evite uma frequência relativa maior que 50%, para prevenir os efeitos da produção de dependência do feedback;

– Seja utilizado o feedback decrescente, ou seja, frequente no início da prática e tirando-o gradualmente;

– Utilizar o feedback frequente até que o atleta atinja a meta básica do padrão do movimento, a partir daí, deve ocorrer o decréscimo nas apresentações;

– Ajustar o decréscimo de acordo com as condições do executante, isto é, decréscimo mais rápido para o indivíduo mais avançado e decréscimo mais lento para aquele que apresente alguma dificuldade;

– Usar uma faixa de amplitude de feedback facilitando o decréscimo durante a prática, ou seja, o instrutor dá informação baseado em uma faixa pré-estabelecida de correção. Se o movimento acontece dentro dos limites, o feedback não é dado, mas se o movimento ultrapassa esses limites, é fornecido.

Finalmente, em que momento após a execução do movimento deve ser apresentado o feedback? Sobre este aspecto deve ser levado em conta o intervalo de tempo entre a execução do movimento e apresentação do feedback e também o intervalo entre o feedback e a próxima execução. Estes intervalos devem ser considerados devido ao processamento, por parte do executante, das informações referentes a sua primeira execução, o ajuste com o feedback recebido e a formulação ou revisão do programa motor do próximo movimento (SCHMIDT, 1993).

feedback deve ser fornecido no máximo cinco segundos após a execução para aproveitar a memória que o esportista tem de sua execução e tenha tempo suficiente para processar seus erros (SCHMIDT, 1993; PÉREZ; BAÑUELOS, 1997).

Os intervalos pós-feedback deveriam ser suficientemente longos, para o planejamento eficiente do próximo evento, e que possam variar de acordo com a sua complexidade (MARTENIUK, 1986; SCHMIDT, 1993).

Da prática resulta o armazenamento de informações. Então, quanto mais rápida fosse a informação ao indivíduo dos objetivos, melhores seriam os resultados. Esta expectativa, parte do princípio que o esquecimento depende entre outros fatores, do tempo que decorre entre o momento da prática e o C.R., teoria da decadência do traço (GODINHO; MENDES; BARREIROS, 1995).

Enquanto espera o C.R., o indivíduo concentra-se na sua informação intrínseca, isso poderá trazer benefícios em longo prazo. No momento do C.R., o indivíduo deixa de lado a informação intrínseca, pois o C.R. é menos abstrato que ela.

Torna-se necessário esperar um certo tempo para se fornecer o C.R. e de preferência preencher esse tempo com tarefas que se relacionem com a estimativa do erro cometido. No entanto, o alargamento desse tempo terá limites de acordo com a capacidade de armazenamento do indivíduo (GODINHO; MENDES; BARREIROS, 1995).

CONCLUSÃO

De acordo com a literatura observam-se dois tipos de feedback: intrínseco e extrínseco. O feedback intrínseco é percebido por meio dos canais sensoriais do praticante e é importante para a percepção dos erros cometidos na realização do gesto motor e, aliado ao feedback extrínseco demonstrado pelo professor por meio de informações verbais e/ou visuais molda o padrão de movimento do aluno. O feedback extrínseco é tido como fator fundamental para o aprendizado e para a performance. A informação dada pelo professor ao aluno ou atleta deve levar em conta a capacidade de processamento e assimilação da informação e, quando este for um iniciante, o feedback deve ser demonstrado de forma objetiva por meio de feedback visual e palavras-chave desenvolvidas pelo professor. Isso faz com que o aluno ou atleta dirija sua atenção aos pontos importantes do movimento a ser realizado, objetivando assim, um padrão de movimento correto. Deve-se objetivar os aspectos menos importantes quando o aluno ou atleta estiver refinando a habilidade motora. Quanto à variação de informação pode-se concluir que, tanto para aprendizagem como para a performance existe um nível ótimo de precisão e, ultrapassando este limite, pode haver influências negativas no movimento a ser realizado, ou seja, não há ganho extra de aprendizagem ou performance.

Um dos aspectos mais importantes a ser observado pelo instrutor é o tempo de processamento da informação intrínseca do executante. O conhecimento de resultado não deve ser apresentado imediatamente após a execução da tarefa, deve ser observado um tempo ótimo para que o aprendiz processe o feedback intrínseco antes de receber informação externa. É recomendado que se peça ao aluno ou atleta que tente observar os possíveis erros cometidos durante a tarefa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

GODINHO, M.; MENDES, R.; BARREIROS, J. Informação de Retorno e Aprendizagem. Horizonte. Lisboa: Livros Horizonte, v. 11, n. 66, p. 217-220, mar./abr. 1995.

MARTENIUK, R. G. Information Processes in Movement Learning: Capacity and Structural Interference Effects. Journal of Motor Behavior. v. 18, n. 1, p.55-75, 1986.

McGOWN, C. O ensino da técnica desportiva. Treino Desportivo. II série, n. 22, p. 15-22, dez. 1991.

PÉREZ, L. M.; BAÑUELOS, F. S. Rendimiento Deportivo: Claves para la Optimización de los Aprendizajes. Madrid: Gymnos, 1997.

SCHMIDT, R. A. Aprendizagem e Performance Motora: dos princípios à prática. Tradução Flávia da Cunha Bastos; Olívia Cristina Ferreira Ribeiro. São Paulo: Movimento, 1993. Cap. 19, p. 227-259: Feedback para Aprendizagem de Habilidade.

ZAKHAROV, A. Ciência do Treinamento Desportivo. Adaptação científica Antonio Carlos Gomes. Rio de Janeiro: Grupo Palestra Sport, 1992. Cap. 2, p. 79-232.

 

Por Fabio Cunha*

* Técnico de Futebol; mestre em Ciências do Movimento (UnG); pós-graduado em Metodologia da Aprendizagem e Treinamento do Futebol (UGF); pós-graduado em Psicologia Esportiva (UCB); pós-graduado em Treinamento, Técnicas e Táticas Esportivas (Fac. Pitágoras) e Bacharel em Esporte com Habilitação em Treinamento em Futebol (USP). Autor dos livros: Torcidas no futebol: espetáculo ou vandalismo? e Técnico de futebol: a arte de comandar. Palestrante em cursos, seminários e congressos em todo o Brasil.