ENTREVISTA ROGÉRIO ROMERO – GESTOR ESPORTIVO

Falamos com Rogério Romero* ex-nadador profissional e hoje Gerente de Esportes do Minas Tênis Clube.

Rogério Romero (Foto Andre Telles)

O que acha do mercado de gestão esportiva no Brasil? Estamos muito longe do mercado americano e europeu?

São mercados distintos, mas certamente os mencionados estão ainda distantes do brasileiro.

Quais as grandes dificuldades que você vê na área e o que fazer para mudar esse quadro?

Assim como em outras áreas, para se investir, deve haver uma segurança. Se contratos são quebrados facilmente, sem uma contrapartida razoável; se as regulamentações mudam demais; se há sempre o “jeitinho” para burlar a farta burocracia, o cenário é realmente desanimador para qualquer investidor. O contrário seria válido para reverter o quadro: maior segurança jurídica, regras claras e um maior profissionalismo sem tanta intervenção do estado, a meu ver, já seria um grande avanço.

Quais as principais práticas de governança corporativa que você viu e vivenciou no esporte brasileiro?

O acesso à informação e a transparência dão um controle social (ou dos acionistas) que melhora a governança. Quando temos sigilo demais, isto pode causar margem para práticas não desejáveis. Comunicação eficiente e uma forte cultura baseada na Missão e Visão são componentes que facilitam qualquer gestão.

Qual a formação necessária para exercer essa função?

Entendo que uma parte básica seja fundamentos da administração. Claro que isto pode ser aprendido com o tempo, mas para uma boa gestão, se faz necessária.

Você acha que as faculdades e cursos de gestão estão prontos ou preparados para formarem novos gestores no Brasil? O mercado está pronto para aceitar esses profissionais vindos das faculdades?

Na minha opinião, nem um, nem outro. Primeiro que o gestor esportivo é basicamente o gestor do futebol. Não por acaso, afinal é a paixão nacional e aonde estão os maiores recursos. Assim mesmo, vemos que, justamente por lidar com a paixão, que pode ser um ativo super importante, esta acaba sempre sobressaindo sobre a razão. Dito isto, que faculdade leciona como lidar com os diversos stakeholders do universo esportivo, com esta pitada política, ou seja, muita coisa feita sem qualquer planejamento? Tirando o mundo do futebol, infelizmente vejo parcas boas oportunidades. As melhores parecem estar nos eventos esportivos, que são realmente isto, eventuais. Os poucos clubes capazes de suportar este profissional estão espalhados de tal forma que a abertura de cursos específicos torna-se difícil, ao menos fisicamente. Uma pena, há uma carência deste profissional no mercado, mas o mercado não o valoriza.

Você acha que a experiência como atleta de alto rendimento é suficiente para assumir um cargo na gerência de um clube ou entidade esportiva?

Não. Adiciona sim pelo fato de já ter percorrido o caminho do sucesso, mas uma formação acadêmica é fundamental para aproveitar este diferencial na plenitude.

Qual a sua visão sobre o futuro da gestão esportiva no Brasil?

Incerto. Sinceramente gostaria e brigo para que seja bem melhor. Há pessoas com alta qualificação e que podem auxiliar a alavancar o esporte brasileiro. Temos boas gestões em entidades com realidades muito diferentes. Agora, sem mudar o que mencionei na segunda pergunta, vejo o avanço comprometido.

Quais dicas você daria para quem quer ingressar nessa área? Existe um caminho a seguir?

Não pare de estudar, mas coloque em prática este aprendizado. Veja o conhecimento como um grande investimento na sua vida. Faça o seu próprio caminho e prenda-se aos seus valores.

 

 

*Rogério Romero  foi atleta de natação que disputou 5 Jogos Olímpicos (1988-2004), bi-campeão pan-americano, 10 campeonatos mundiais; Formado em Gestão Empresarial, com MBA em Gestão de Projetos e Especialização em Gestão Esportiva; Gerente de Esportes do Minas Tênis Clube