ENTREVISTA ORLANDO FERREIRA Jr. – GESTÃO DO FUTEBOL AMERICANO

Nessa entrevista falamos com Orlando Ferreira Jr.*, ex-atleta, treinador e presidente de um clube de futebol americano no Brasil.

Orlando Ferreira Jr. – Fundador do Cuiabá Arsenal

 

Como você vê o status atual do futebol americano no Brasil?

O esporte está em franco crescimento e ainda tem um potencial de conquistar novos fãs muito grande. Hoje temos várias equipes que aplicam conceitos bem atuais de gestão e, por isso, estão se destacando. O esporte ainda carece dessa gestão mais profissional nas entidades estaduais (federações) e nacional (confederação).

Como é gerir um clube de um esporte ainda pouco conhecido pelos brasileiros? Quais as grandes dificuldades?

Enquanto estive à frente do Cuiabá Arsenal a principal dificuldade enfrentada foi a captação de recursos. Optamos por posicionar a equipe como uma alternativa de entretenimento para as famílias da cidade. Esperávamos, com isso, conquistar uma base de fã que tornasse a equipe atraente para os possíveis patrocinadores. A aposta deu certo, mas de maneira lenta, e a equipe precisou de recursos dos diretores para se bancar. Outro aspecto desafiador é que precisamos, sempre, ensinar o esporte. Nos nossos jogos, por exemplo, temos narração ao vivo no estádio e o narrador se preocupa em explicar o que está acontecendo em campo, para que os novos fãs aprendam o básico das regras do esporte.

O Superbowl (final do campeonato de futebol americano nos EUA) gera receitas inimagináveis para os padrões brasileiros, o que podemos tirar de lição para aplicarmos no esporte no Brasil?

Tratar o esporte como um produto que é consumido por uma base de fãs. Ao fazer isso, podemos (e devemos) aplicar as técnicas do marketing ao esporte, tornando-o cada vez mais atrativo aos fãs e, por extensão, aos patrocinadores. Acho que o esporte brasileiro faz isso de maneira muito tímida, quando faz, e podemos aprender muito, não apenas com a NFL, mas com todas as grandes ligas americanas, inclusive a Major League Soccer.

O futebol monopoliza a maior parte da mídia esportiva, o que os clubes e federações de futebol americano podem fazer para ter uma visibilidade na mídia esportiva brasileira?

Nenhum esporte, no Brasil, vai alcançar o status do futebol. Isso não significa que não haja espaço para os outros esportes. Claro que há. O espaço que o vôlei conquistou é um exemplo disso. Outro fato importante é que a internet democratizou as mídias e hoje há uma carência de (bom) conteúdo esportivo. As federações e, principalmente, os clubes podem (e devem) aproveitar essa necessidade das empresas de mídia, inclusive as tradicionais, e fornecer conteúdo de qualidade para elas. Na prática, uma boa assessoria de imprensa e uma estratégia de marketing minimamente planejada farão muita diferença à uma equipe.

Como se dá a capacitação e qualificação dos profissionais que atuam no futebol americano no Brasil, seja da área de gestão ou técnica? Existe algum curso específico?

As primeiras pessoas envolvidas com o futebol americano no Brasil buscaram conhecimento através da troca de experiências com os profissionais americanos, seja pessoalmente, através de livros e da internet. Atualmente, uma nova safra de profissionais está chegando às equipes, já “formada” no Brasil, através da experiência prática. A capacitação formal específica ainda não existe e os cursos de Educação Física é que suprem esse papel. Um movimento importante, que começou há cerca de um ano, foi a criação de uma comunidade (e um site) para integrar os treinadores e gestores brasileiros e fomentar a troca de experiências. É o http://headcoachbrasil.com/

Qual a sua visão sobre o futuro do futebol americano no país?

Vejo que, no Brasil, o futebol tradicional está no patamar mais alto de popularidade e valores movimentados. Depois, em um segundo patamar, temos o basquete, o vôlei, o automobilismo, o futsal e (talvez) o surfe. Depois, mais abaixo, o handebol, o rugby, a ginástica, a natação, o atletismo, entre outros. Vejo o futebol americano, hoje, lutando para entrar nesse terceiro grupo. E, em cinco anos, eu vejo ele entrando no segundo grupo.

Quais dicas você daria para quem quer trabalhar com esse esporte? Existe um caminho a seguir?

Minha dica principal é só fazer se realmente estiver apaixonado pelo esporte. Se a motivação for econômica, as chances de não dar certo são enormes. O esporte ainda não movimenta valores suficientes para fazer dele uma boa alternativa financeira. O caminho? Procure as pessoas que estão envolvidas na sua região, conheça as equipes e identifique um grupo com os quais você compartilhe dos valores e ideais. É o ponto de partida que eu seguiria se fosse começar hoje…

*Orlando é um dos fundadores do Cuiabá Arsenal e se envolveu com o Futebol Americano em 2002. Atuou como quarterback, treinador e presidente do Cuiabá Arsenal, além de participar da AFAB, LBFA e CBFA. É graduado em Ciência da Computação pela Universidade de Cuiabá e possui MBA em Gestão Empresarial pela FGV e também pela Fundação Dom Cabral. Nasceu e mora em Cuiabá, com sua esposa Itala e seu filho Igor.