Nessa entrevista falamos com Rodolfo Kussarev*, presidente da equipe do Red Bull Brasil.
O que acha do mercado da gestão do futebol brasileiro?
Ainda em estágio inicial. Entendo que a conjuntura de mercado ainda não é propícia, mas se comparar a quando comecei no esporte, com certeza está evoluindo.
Quais as grandes dificuldades que você vê na área e o que fazer para mudar esse quadro?
Estruturais. Enquanto tivermos clubes em formato associativo/político como a base do processo, dificilmente teremos mudanças ou evoluções rápidas.
Quais as principais práticas de governança corporativa que você viu e vivenciou no futebol brasileiro?
Eu tive uma oportunidade que poucos tiveram que é a de trabalhar num verdadeiro clube-empresa. Mas quando comecei na bola, vivi clubes de todos os tipos e tamanhos, da sexta à primeira divisão, mas sempre com os mesmos problemas. Basicamente a chave está no ‘drive’ da gestão, se ela é técnica ou não e, em clubes associativos, o ‘drive’ tende sempre a ser outro, político.
Qual a formação necessária para exercer a função de gestor?
Boa pergunta. Com relação à formação, acho que existem várias possibilidades. Com relação à vivência, administração, com certeza. Mas o maior problema é a falta de cursos de formação no país. Como não temos nada, as pessoas acabam aprendendo fazendo o que nem sempre é a melhor prática. Mas foi o que aconteceu comigo e o que acontece com a maioria dos gestores.
Você acha que as faculdades e cursos de gestão estão prontos ou preparados para formarem novos gestores esportivos no Brasil? O mercado está pronto para aceitar esses profissionais vindos das faculdades?
Como falei antes, enquanto os clubes continuarem sendo associativos, difícil, mas a tendência é que isso mude. Com relação à preparação das instituições, é só beber na fonte da Europa, não tem muito segredo. A teoria é fácil. A prática são outros 500, como em qualquer profissão.
Quais as principais dificuldades e particularidades para administrar um clube vindo de uma empresa privada?
Quando estive em clubes que não eram empresas, algumas coisas chamavam a atenção, mas na base de tudo vinha o amadorismo. Ou seja, as pessoas envolvidas estavam lá só por paixão (o que é importante), mas não preponderante. Não existe planejamento, não existe direcionamento claro, não existe meta, nem objetivos estratégicos, é tudo hoje.
O modelo de gestão de um clube como o Red Bull é muito diferente dos clubes tradicionais?
Obviamente, mas não tem nada de diferente do que se faz em outros centros ou áreas. Simplesmente é uma empresa, com metas, objetivos, planos estratégicos de curto, médio e longo prazo e o desafio de cumpri-los da maneira mais eficiente possível.
Qual a sua visão sobre o futuro da gestão no futebol brasileiro?
Se não mudarmos a estrutura, a evolução será muito lenta. Não dá para um presidente que tem um mandato de 2/4 anos fazer um planejamento de 5, 10, 20 anos e é por isso que a cada gestão o clube entra num ‘recomeço’ e todos os processos são descontinuados ou revistos, bons ou ruins. Sem planejamento e visão estratégica, nenhuma empresa consegue viver e infelizmente é isso que ocorre no futebol brasileiro.
O mercado precisa de profissionalização e regulamentação, e ainda estamos longe disso em que pese ter melhorado.
Quais dicas você daria para quem quer ingressar nessa área? Existe um caminho a seguir?
Mais uma pergunta difícil. Com a ausência de formação formal, sugiro aprender-fazendo, ou seja, imaginar que aquele período de 4/5 anos de universidade pode ser substituído por 4/5 anos de prática, em diferentes ambientes. Cursos fora são bem vindos, e esperar que aqui também se desenvolvam oportunidades mais consolidadas de aprendizagem.