Falamos com o profissional do futebol Rodrigo Bellão*. Saiba mais sobre a função de auxiliar técnico de futebol.
Prof. Rodrigo Bellão
Qual a formação necessária para ser auxiliar técnico de futebol? Existe algum curso específico ou a formação é a mesma que a de treinador?
A formação é a mesma que a de um treinador, na minha opinião. O auxiliar não deixa de ser um treinador, no entanto ele deve trabalhar em cima da mesma ideia de jogo que o treinador pretende para sua equipe. Talvez seja interessante o Auxiliar Técnico ter uma boa noção sobre análise de desempenho também.
Como a formação dos técnicos e auxiliares no Brasil está em relação à formação no exterior?
A formação aqui no Brasil ainda é abaixo do que é necessário para o bom desenvolvimento da categoria em relação ao resto do mundo. A formação aqui ainda é bem restrita e com um custo muito elevado. A alternativa é fazer diversos cursos (não oficiais), que são mais em conta e que possuem um bom conteúdo. Pois, mesmo que esse tipo de curso não dê a carteirinha para ser treinador, ele pode ajudar o treinador a ter uma boa atualização a respeito dos conteúdos que envolvem o futebol moderno.
Como você vê a atuação do auxiliar técnico, até onde ele pode ir para não acontecer atrito com o treinador?
O auxiliar tem que entender que ele é um segundo comandante, um “sub-chefe” ou “sub-líder”, e por isso ele deve respeitar a hierarquia do treinador. Mas, isso não significa concordar com tudo que o treinador pense ou execute, mas deve reportar a ele a sua real opinião a todo o momento. E mesmo que o treinador não concorde com a sua opinião, o auxiliar deve respeitar a decisão tomada e trabalhar para que essa seja muito eficiente e que traga bons resultados. Isso diz respeito a ética da profissão.
Como o mercado do futebol vê os profissionais que querem ingressar nessa área, mas que não atuaram como atletas profissionais?
Este é o meu caso! Realmente ainda há um preconceito em cima desta questão, mas vejo esse problema diminuindo com o tempo. Basta o profissional mostrar uma competência técnica, metodológica e uma boa gestão de pessoas, que esse paradigma acaba sendo quebrado.
Hoje se valoriza muito a profissão de técnico de futebol, existe uma valorização do auxiliar ou ele fica relegado a segundo plano?
Não se pode generalizar, pois em muitos clubes há essa valorização. Vemos muitos clubes com auxiliares fixos durante um bom tempo e até mesmo assumindo a equipe interinamente durante muito tempo. Mas no geral, o auxiliar é enxergado como sombra do treinador, independentemente se o trabalho executado por ele é bom ou ruim.
Você acha que o auxiliar deve fazer amizade para acompanhar sempre o treinador ou pode ser auxiliar fixo do clube? Como funcionam esses dois modelos?
Olha, eu acho que isso depende muito do profissional. Depende muito do plano de carreira que este auxiliar tem. Dependerá muito das oportunidades que aparecerem para ele no decorrer da sua carreira. O auxiliar fixo do clube muitas vezes acaba tendo uma função mais pendente a trabalhar com os atletas não relacionados ou mais voltada para análises de desempenho. O auxiliar do treinador já é mais atuante em treinamentos, tem um comando em conjunto com o treinador. A diferença se encontra na ESTABILIDADE no cargo, que o fixo do clube tem um cargo mais ESTÁVEL do que o do treinador.
Como é a remuneração dos profissionais, existe algum padrão, piso ou teto salarial? O auxiliar ganha muito menos que o treinador?
Não há nem piso e nem teto. E, geralmente, o auxiliar ganha conforme o restante da comissão: bem abaixo do salário do treinador.
Qual a sua visão sobre o futuro do futebol no Brasil?
Acredito que o futebol brasileiro irá mudar, mas com passos curtos e aos poucos. Vejo um bom futuro para daqui a 10 anos. Mas para essa mudança é necessária a capacitação não somente dos treinadores, mas dos gestores também. Somente aí iremos dar um grande passo no futebol.
Quais dicas você daria para quem quer ingressar nessa área? Existe um caminho a seguir?
O início é difícil e sacrificante, como em muitas áreas. São estágios sem remuneração, mostrar competência e qualidade, mostrar postura profissional. Acredito que as pessoas têm que se capacitar tanto teoricamente como na prática. Estudar e trabalhar. Esse conjunto vai fazer a pessoa crescer muito profissionalmente. Se necessário, comece em escolinhas. Faça um GRANDE trabalho nelas. Faça Contatos. Faça cursos. A união de tudo isso é o que pode levar a um crescimento profissional.
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*Rodrigo Bellão é Bacharel em Esporte, formado pela USP. Pós-graduado em Metodologia do treinamento em Futebol e Futsal, pela Estácio. Trabalhou como preparador físico e analista de desempenho. Desde 2011 atua na área Técnica. Foi treinador e auxiliar técnico nas categorias de base da Portuguesa de Desportos e do Grêmio Novorizontino. Foi auxiliar técnico profissional na Portuguesa de Desportos, Mogi Mirim, Grêmio Osasco e Osasco Futebol Clube. Palestrante e professor em diversos cursos voltados para o Futebol, com temas em treinamento e/ou Análise de Desempenho.
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